Boa Companhia faz mostra questionando conceito de humanidade a partir de pesquisa com corporeidade animal

Grupo de Campinas apresenta três peças em "O Lobo do Homem", com influências de Franz Kafka e Brecht

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para retratar o homem em cena, a Boa Companhia passa longe dos preceitos de civilização. Busca inspiração no comportamento animal.
Na ocupação "O Lobo do Homem", que acontece até agosto no Teatro de Arena, o grupo de Campinas, que alcançou maioridade este ano, questiona o conceito de humanidade e pesquisa uma linguagem calcada no estudo da corporeidade animal.
Ao apresentar "Primus", "Cartas do Paraíso" e "Portela, Patrão; Mário, Motorista", a companhia lança um novo olhar sobre o ser humano e redefine os limites entre homem e animal, natureza e cultura, além do próprio teatro, que passa a ser híbrido.
"Enriquecemos o trabalho com os pontos de convergência que encontramos entre os homens e os animais", diz a diretora Verônica Fabrini.
Baseado em conto de Franz Kafka, "Primus", há 10 anos em cartaz, reflete sobre a evolução humana a partir da saga de um macaco que aprende a se comportar como homem para sobreviver.
As outras duas peças, em São Paulo pela primeira vez, expõem corporalidades animais menos explícitas.
Inspirado em Bertolt Brecht, "Portela, Patrão..." discute relações de dominação da sociedade. Os atores estudaram brigas de cães para retratar personagens desumanizados pela ambição. "Cartas ao Paraíso" foi criada com base em cartas do início da colonização brasileira. A onça, símbolo de poder em diversas culturas, serviu de estímulo para compor o retrato dos índios no confronto natureza e civilização.
A submissão do homem à valores vigentes e a perda da liberdade são abordadas com retratos micros e macros da sociedade na ocupação. O "Lobo do Homem" não dá respostas ao que significa ser humano, mas torna a discussão mais interessante.