São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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Cinema do Brasil vai à França, cinema da França vem ao Brasil



SP e Rio vêem, até domingo, cinco filmes franceses; Paris exibe, a partir de quarta, 43 filmes brasileiros
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O cinema brasileiro ganha a partir da próxima quarta-feira uma exposição e tanto. Quarenta e três produções realizadas a partir dos anos 50 serão exibidas no festival "50 Ans de Cinéma Brésilien - Du Cinema Novo au Cinéma Nouveau", organizado pelo produtor, estudioso e fã do cinema brasileiro Didier Nedjar, em parceria com a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, Rio Filmes e Cinemateca Brasileira.
O evento prossegue até 3 de agosto. Serão exibidos em sessões contínuas, diariamente, no cine Les 3 Luxembourg, no Quartier Latin.
Em entrevista à Folha, de Paris, Nedjar falou dos critérios de sua seleção, das dificuldades encontradas e das relações entre os cinemas brasileiro e o francês.

Folha - Por que a opção por um festival sobre cinema brasileiro?
Didier Nedjar -
Nos últimos anos, a produção brasileira retomou, em um novo clima técnico e também político, sua independência de criação. O cinema brasileiro é um dos principais cinemas independentes do mundo e, assim como a França, tem uma antiga tradição. Sabemos que houve um pequeno acidente de percurso nos últimos anos, mas a produção recomeçou. Queríamos testemunhar isso.
Notamos ainda que havia uma continuidade. É um cinema muito variado, com filmes comerciais, mas também políticos, antropológicos, históricos, policiais...
Queremos mostrar os filmes que todos amam, como os de Glauber Rocha, de quem exibiremos quatro filmes, mas também filmes e diretores desconhecidos.

Folha - Mas por que se optou por esse corte cronológico?
Nedjar -
O Brasil tem uma produção pré-guerra bastante clássica, mas, no pós-guerra, há uma explosão de novos movimentos, como o cinema novo, e uma diversidade maior. Há filmes exóticos, mas também psicanalíticos, como os de Arnaldo Jabor.

Folha - Você vê relações entre o desenvolvimento do cinema francês e o do brasileiro?
Nedjar -
O cinema francês possui ainda uma grande fatia do mercado na França. Produzimos muitos filmes comerciais, mas também marginais. O cinema brasileiro ainda não tem essa base industrial e comercial, com grandes orçamentos, e, por isso, continua sendo uma produção de elite.
O Brasil possui agora novas produtoras, como a Conspiração, mas também diretores clássicos, influenciados pelos cinemas francês e italiano, como Saraceni. Existe também um cinema produzido por publicitários, que visa o mercado internacional. É raro encontrar um país com um cinema tão rico. A França possui também problemas parecidos. Apesar de termos um bom mercado, somos mal exportados. Guardadas as devidas proporções, os filmes brasileiros que tentam conseguem ser mais bem exportados que os franceses.

Folha - Quais foram seus critérios para a seleção dos filmes?
Nedjar -
A seleção foi feita a partir de uma série de encontros que eu tive com vários diretores brasileiros. Passei horas com Ruy Guerra, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Cézar Saraceni... Falei com produtores, estudiosos e amantes do cinema brasileiro. Compreendi um pouco o ponto de vista brasileiro.
Fiz uma seleção bem pessoal, mas não exclui sequer filmes que nem gosto tanto. Existem filmes que não gosto, mas que são importantes para o cinema brasileiro e, por isso, estão na mostra.
Aprendi muito sobre o Brasil nesse ano em que me dediquei a esse projeto. Adorei ver os filmes, alguns que nem poderei mostrar, pois não estão terminados.

Folha - Foi difícil conseguir as cópias para exibição na França?
Nedjar -
Foi muito difícil. Os filmes viajam, e ninguém sabe onde eles estão. Queríamos filmes com legendas em francês, e isso nos deu mais trabalho. Não conseguimos uma cópia de "O Desafio", que eu queria muito incluir na mostra.
Fizemos um grande esforço. Conseguimos legendar "O Bandido da Luz Vermelha", por exemplo. Exibiremos 38 filmes com legendas em francês e apenas cinco com legendas em inglês.


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