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Cinema do Brasil vai à França, cinema da França vem ao Brasil
SP e Rio vêem, até domingo, cinco filmes franceses; Paris exibe, a partir de quarta, 43 filmes brasileiros
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CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
O cinema brasileiro ganha a partir da próxima quarta-feira uma
exposição e tanto. Quarenta e três
produções realizadas a partir dos
anos 50 serão exibidas no festival
"50 Ans de Cinéma Brésilien - Du
Cinema Novo au Cinéma Nouveau", organizado pelo produtor,
estudioso e fã do cinema brasileiro
Didier Nedjar, em parceria com a
Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, Rio Filmes e Cinemateca Brasileira.
O evento prossegue até 3 de agosto. Serão exibidos em sessões contínuas, diariamente, no cine Les 3
Luxembourg, no Quartier Latin.
Em entrevista à Folha, de Paris,
Nedjar falou dos critérios de sua
seleção, das dificuldades encontradas e das relações entre os cinemas
brasileiro e o francês.
Folha - Por que a opção por um
festival sobre cinema brasileiro?
Didier Nedjar - Nos últimos anos,
a produção brasileira retomou, em
um novo clima técnico e também
político, sua independência de
criação. O cinema brasileiro é um
dos principais cinemas independentes do mundo e, assim como a
França, tem uma antiga tradição.
Sabemos que houve um pequeno
acidente de percurso nos últimos
anos, mas a produção recomeçou.
Queríamos testemunhar isso.
Notamos ainda que havia uma
continuidade. É um cinema muito
variado, com filmes comerciais,
mas também políticos, antropológicos, históricos, policiais...
Queremos mostrar os filmes que
todos amam, como os de Glauber
Rocha, de quem exibiremos quatro filmes, mas também filmes e diretores desconhecidos.
Folha - Mas por que se optou por
esse corte cronológico?
Nedjar - O Brasil tem uma produção pré-guerra bastante clássica,
mas, no pós-guerra, há uma explosão de novos movimentos, como o
cinema novo, e uma diversidade
maior. Há filmes exóticos, mas
também psicanalíticos, como os de
Arnaldo Jabor.
Folha - Você vê relações entre o
desenvolvimento do cinema francês e o do brasileiro?
Nedjar - O cinema francês possui
ainda uma grande fatia do mercado na França. Produzimos muitos
filmes comerciais, mas também
marginais. O cinema brasileiro
ainda não tem essa base industrial
e comercial, com grandes orçamentos, e, por isso, continua sendo uma produção de elite.
O Brasil possui agora novas produtoras, como a Conspiração, mas
também diretores clássicos, influenciados pelos cinemas francês
e italiano, como Saraceni. Existe
também um cinema produzido
por publicitários, que visa o mercado internacional. É raro encontrar um país com um cinema tão
rico. A França possui também problemas parecidos. Apesar de termos um bom mercado, somos mal
exportados. Guardadas as devidas
proporções, os filmes brasileiros
que tentam conseguem ser mais
bem exportados que os franceses.
Folha - Quais foram seus critérios
para a seleção dos filmes?
Nedjar - A seleção foi feita a partir de uma série de encontros que
eu tive com vários diretores brasileiros. Passei horas com Ruy Guerra, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Cézar Saraceni... Falei com produtores, estudiosos e amantes do
cinema brasileiro. Compreendi
um pouco o ponto de vista brasileiro.
Fiz uma seleção bem pessoal,
mas não exclui sequer filmes que
nem gosto tanto. Existem filmes
que não gosto, mas que são importantes para o cinema brasileiro e,
por isso, estão na mostra.
Aprendi muito sobre o Brasil
nesse ano em que me dediquei a
esse projeto. Adorei ver os filmes,
alguns que nem poderei mostrar,
pois não estão terminados.
Folha - Foi difícil conseguir as cópias para exibição na França?
Nedjar - Foi muito difícil. Os filmes viajam, e ninguém sabe onde
eles estão. Queríamos filmes com
legendas em francês, e isso nos deu
mais trabalho. Não conseguimos
uma cópia de "O Desafio", que eu
queria muito incluir na mostra.
Fizemos um grande esforço.
Conseguimos legendar "O Bandido da Luz Vermelha", por exemplo. Exibiremos 38 filmes com legendas em francês e apenas cinco
com legendas em inglês.
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