São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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TEATRO
Premiado autor carioca estréia hoje em São Paulo "O Altar do Incenso", com Marília Pêra e Gracindo Júnior
Wilson Sayão finalmente chega a SP

ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

Foram anos de espera. Após 19 peças, prêmios Shell e Mambembe de melhor autor e encenações de destaque, como "Anônima", o dramaturgo carioca Wilson Sayão, 49, enfim estréia em São Paulo um texto de sua autoria.
Quase obscuro em solo paulistano, o escritor apresenta, de hoje a 25 de julho, no teatro Alfa, a primeira montagem de "O Altar do Incenso", tragicomédia suburbana criada por ele em 78. Em grande estilo, o espetáculo é protagonizado por Marília Pêra e Gracindo Júnior, que voltam a atuar juntos após 21 anos, e tem direção de Moacir Chaves.
Numa aparente simplicidade, "O Altar do Incenso" narra a história de um casal do subúrbio do Rio, precisamente, do periférico bairro de Todos os Santos.
Casados há décadas, Isaque (Gracindo) e Rebeca (Marília) têm a vida mudada com a chegada de um peculiar ladrão, que passa a invadir as casas da vila onde moram.
Numa espera à Godot (personagem que nunca aparece, imortalizado por Samuel Beckett em "Esperando Godot"), os dois decidem fazer vigílias ininterruptas para se proteger do ataque do bandido.
"Nada aqui é realista. O ladrão não é só um ladrão. O Isaque e a Rebeca são apenas um funcionário público e uma dona-de-casa, mas não somente isso... E fica-se no fio da navalha entre a comédia e a tragédia", disse a atriz à Folha.
Suburbana como sua personagem, Marília conheceu o texto por meio de Gracindo, que já havia trabalhado com Sayão em "Anônima", dirigida por Aderbal Freire Filho, em 97, no Rio. Com essa peça, o dramaturgo conquistou seu segundo Prêmio Shell (o primeiro foi em 90, com "Uma Casa Brasileira com Certeza").
Fascinada pelo universo de Sayão desde os tempos de "Anônima", Marília leu "O Altar do Incenso", deu gargalhadas e classificou: "Trata-se de uma tragédia engraçadíssima". E aceitou rapidamente o convite de Gracindo e do tímido autor, que não tinha sequer coragem para propor a montagem do texto à grande atriz...
Simpático, mas acanhado, Wilson Sayão decidiu vir a São Paulo apenas no dia da estréia. Por telefone, ele explicou um pouco sua obra: "Esse ladrão vai alterando a vida do casal. Ele é como o destino, ou o tempo, que decide sozinho o futuro das pessoas. Se numa casa ele mata os moradores, em outra ele beija as vítimas e vai embora sem machucar ninguém".
Segundo ele, a figura-chave do criminoso também pode ser identificada como a morte -daí o porquê da vigília de Isaque e Rebeca, que não podem ser pegos dormindo, desprevenidos, "como aconteceu com Dolores Duran". "Esse bandido é tudo isso. E nada disso", decreta o dramaturgo.
"Esse marginal acaba servindo para manter o casal unido, é um elemento fundamental para que vivam juntos emoções, sejam elas quais forem", afirma Gracindo.
Apesar de todas as nuances e dicotomias do texto, "O Altar do Incenso" é uma peça razoavelmente curta, com cerca de uma hora de duração. "Quase como um poema", na definição de Marília.
E como é voltar a trabalhar com Gracindo, parceiro de TV (fizeram juntos "Rosinha do Sobrado", primeira telenovela da Rede Globo) e teatro? "É como um casamento... com tudo de bom e de ruim que há nisso. Mas a gente não briga, não. É um casamento de anos, muito respeitoso", se diverte a atriz.


Peça: O Altar do Incenso Autor: Wilson Sayão Direção: Moacir Chaves Com: Marília Pêra e Gracindo Júnior Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000) Quando: quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h. Até 25 de julho Quanto: de R$ 20 a R$ 40

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