|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Premiado autor carioca estréia hoje em São Paulo "O Altar do Incenso", com Marília Pêra e Gracindo Júnior
Wilson Sayão finalmente chega a SP
ERIKA SALLUM
da Reportagem Local
Foram anos de espera. Após 19
peças, prêmios Shell e Mambembe
de melhor autor e encenações de
destaque, como "Anônima", o
dramaturgo carioca Wilson Sayão,
49, enfim estréia em São Paulo um
texto de sua autoria.
Quase obscuro em solo paulistano, o escritor apresenta, de hoje a
25 de julho, no teatro Alfa, a primeira montagem de "O Altar do
Incenso", tragicomédia suburbana
criada por ele em 78. Em grande
estilo, o espetáculo é protagonizado por Marília Pêra e Gracindo Júnior, que voltam a atuar juntos
após 21 anos, e tem direção de
Moacir Chaves.
Numa aparente simplicidade, "O
Altar do Incenso" narra a história
de um casal do subúrbio do Rio,
precisamente, do periférico bairro
de Todos os Santos.
Casados há décadas, Isaque
(Gracindo) e Rebeca (Marília) têm
a vida mudada com a chegada de
um peculiar ladrão, que passa a invadir as casas da vila onde moram.
Numa espera à Godot (personagem que nunca aparece, imortalizado por Samuel Beckett em "Esperando Godot"), os dois decidem
fazer vigílias ininterruptas para se
proteger do ataque do bandido.
"Nada aqui é realista. O ladrão
não é só um ladrão. O Isaque e a
Rebeca são apenas um funcionário
público e uma dona-de-casa, mas
não somente isso... E fica-se no fio
da navalha entre a comédia e a tragédia", disse a atriz à Folha.
Suburbana como sua personagem, Marília conheceu o texto por
meio de Gracindo, que já havia trabalhado com Sayão em "Anônima", dirigida por Aderbal Freire
Filho, em 97, no Rio. Com essa peça, o dramaturgo conquistou seu
segundo Prêmio Shell (o primeiro
foi em 90, com "Uma Casa Brasileira com Certeza").
Fascinada pelo universo de Sayão desde os tempos de "Anônima", Marília leu "O Altar do Incenso", deu gargalhadas e classificou: "Trata-se de uma tragédia engraçadíssima". E aceitou rapidamente o convite de Gracindo e do
tímido autor, que não tinha sequer
coragem para propor a montagem
do texto à grande atriz...
Simpático, mas acanhado, Wilson Sayão decidiu vir a São Paulo
apenas no dia da estréia. Por telefone, ele explicou um pouco sua
obra: "Esse ladrão vai alterando a
vida do casal. Ele é como o destino,
ou o tempo, que decide sozinho o
futuro das pessoas. Se numa casa
ele mata os moradores, em outra
ele beija as vítimas e vai embora
sem machucar ninguém".
Segundo ele, a figura-chave do
criminoso também pode ser identificada como a morte -daí o porquê da vigília de Isaque e Rebeca,
que não podem ser pegos dormindo, desprevenidos, "como aconteceu com Dolores Duran". "Esse
bandido é tudo isso. E nada disso",
decreta o dramaturgo.
"Esse marginal acaba servindo
para manter o casal unido, é um
elemento fundamental para que
vivam juntos emoções, sejam elas
quais forem", afirma Gracindo.
Apesar de todas as nuances e dicotomias do texto, "O Altar do Incenso" é uma peça razoavelmente
curta, com cerca de uma hora de
duração. "Quase como um poema", na definição de Marília.
E como é voltar a trabalhar com
Gracindo, parceiro de TV (fizeram
juntos "Rosinha do Sobrado", primeira telenovela da Rede Globo) e
teatro? "É como um casamento...
com tudo de bom e de ruim que há
nisso. Mas a gente não briga, não. É
um casamento de anos, muito respeitoso", se diverte a atriz.
Peça: O Altar do Incenso
Autor: Wilson Sayão
Direção: Moacir Chaves
Com: Marília Pêra e Gracindo Júnior
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000)
Quando: quinta a sábado, às 21h; domingo,
às 19h. Até 25 de julho
Quanto: de R$ 20 a R$ 40
Texto Anterior: Vida Bandida - Voltaire de Souza: Pipocas de chumbo Próximo Texto: Dramaturgo cursou direito Índice
|