São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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Luxo e decadência foram domínios preferidos

da Redação


Ainda que fizesse o mais rocambolesco dos filmes, dificilmente Luchino Visconti (1906-1976) conseguiria dar uma idéia do que foi sua agitada biografia.
Ali existe de quase tudo: a origem nobre (era conde e filho de um duque) e as convicções marxistas; o gosto por corridas de cavalo e pelo teatro; um filme feito sob o regime fascista ("Ossessione") e uma condenação à morte, durante a Segunda Guerra Mundial, por participar da resistência.
Não é de estranhar, portanto, que Visconti tenha em seu currículo um dos principais filmes do neo-realismo ("A Terra Treme"), sobre pescadores de uma aldeia italiana, e também tenha sido um dos primeiros realizadores a se afastar, nos anos 50, da estética austeramente realista pregada por Roberto Rossellini.
Com efeito, o luxo e a decadência foram os domínios preferidos de Visconti. Numa geração que soube tirar partido da destruição de seu país, no pós-guerra, foi ele quem mais desenvolveu o gosto pelo espetáculo, desde os anos 50.
Já em "Sedução da Carne", de 1954, pode-se ver plenamente desenvolvido o gosto pelo decorativo, pela musicalidade e pela grandiosidade, num registro abertamente romântico, sem nem por isso abandonar suas convicções comunistas. "Sedução da Carne" já desenvolvia, no registro operístico que tanto agradava ao cineasta, o gosto pela decadência ou, mais, pela dissolução familiar.
A temática o acompanharia ao longo de sua vida, em filmes tão diversos quanto "Vagas Estrelas da Ursa", sobre incesto, ou "Os Deuses Malditos", sobre a adesão de uma poderosa família ao nazismo. Homossexual, abordou de frente a temática em "Morte em Veneza", adaptação do romance de Thomas Mann.
Luchino Visconti foi um dos principais expoentes do cinema italiano no pós-guerra, justamente no momento em que essa escola consolidou-se como uma das principais do cinema mundial, com realizadores tão influentes quanto Rossellini, Vittorio De Sica, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, entre outros.
De todos, talvez tenha sido aquele que melhor soube se relacionar com seus atores, colocando em destaque nomes como Alain Delon, Romy Schneider, Claudia Cardinale, Helmut Berger. Também foi possivelmente o cineasta que melhor explorou Burt Lancaster, estrela de dois de seus principais filmes: "O Leopardo" e "Violência e Paixão". (IA)


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