São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2000


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LITERATURA
Poeta escolheu textos de "Oráculos de Maio" para primeiro registro de sua obra em CD, a ser lançado este mês
Versos de Adélia Prado mudam de estante

Janete Longo - 14.mai.99/Folha Imagem
Adélia Prado lê em SP trecho de "Oráculos de Maio", seu volume mais recente, do qual selecionou poemas para CD que sai este mês


FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REDAÇÃO

Pela primeira vez, os versos de Adélia Prado, 64, vão migrar das prateleiras de livros para as de discos. Poemas de "Oráculos de Maio" (1999, Siciliano) acabam de ganhar uma edição sonora, na voz da própria autora.
Batizado de "O Tom de Adélia Prado", o CD foi idealizado pela produtora Carminha Guerra, que escolheu a obra da autora mineira para comemorar, com uma "homenagem ao feminino", o décimo aniversário de seu selo, o Karmim.
A produtora conta que, no fim do ano passado, partiu sozinha em viagem, buscando reflexão. Os livros que escolheu para levar eram todos de Adélia. "Essa mulher fala por nós todas", concluiu. Quando voltou a Belo Horizonte, "em êxtase", procurou logo a poeta, que se animou.
"Toda a vida eu gostei de ler poesia, então o convite foi beleza, aceitei com prazer", diz Adélia.
Escolheram, então, "Oráculos de Maio", não só por ser a obra mais recente da escritora, mas por ser a que marca uma transição no modo como a poeta vê Deus, ela que tem na religiosidade um tema constante.
"Os poemas de "Oráculos" já falam de Deus como pai. São experiências poéticas que revelam um Deus amigo, do "Novo Testamento". Estou saindo do "Antigo Testamento", é isso", explica Adélia.

Trilha sonora
A produtora Carminha Guerra, que tem formação em música, diz que, após ouvir a gravação de Adélia Prado, sentiu vontade de valorizar a emoção calcada pela poeta à leitura. Para tanto, encomendou uma trilha sonora especialmente para o CD.
O encarregado foi o flautista e compositor Mauro Rodrigues -que, como Adélia e a maior parte dos outros representados pelo selo Karmim, é mineiro.
Após consultar a poeta sobre seus instrumentos preferidos -oboé e violoncelo-, o músico somou a eles violão e flauta, em temas de inspiração barroca, que introduzem a leitura de cada um dos textos. Adélia gostou. "Achei que ele (Rodrigues) compreendeu o espírito da poesia."
A música sublinha de modo sutil o ideário mineiro/religioso da obra de Adélia Prado, ajudando os 56 poemas a não se perderem nos cerca de 47 minutos do CD, dividido em seis blocos ("Romaria", "Quatro Poemas no Divã", "Pousada", "Cristais", "Oráculos de Maio" e "Neopelicano").
A poeta, por sua vez, imprime à própria declamação um registro emocionado, porém comedido, que reflete de forma precisa a natureza de sua poesia que, apesar de carregada de misticismo, não se afasta tampouco das coisas terrenas, do dia-a-dia. "A gente conhece o espaço afetivo, o tom do universo em que o poema foi escrito", confirma a poeta.

Os "sóis" de Adélia
E o tom do universo do CD se impôs solar.
"A voz de Adélia é sol menor, e em todos os poemas tem uma luz de outono, ou de nascer ou de pôr-do-sol", diz Carminha.
Assim ela explica a escolha pelo amarelo como cor principal do encarte do CD, compondo um fundo para fotos de Adélia em várias idades e imagens de Nossa Senhora da Conceição, de quem a poeta é devota. Para completar, por coincidência, a produtora soube depois, amarelo é também a "cor do coração" da escritora.
O próximo passo para Adélia é vencer sua inclinação natural para a contenção e encarar a platéia do lançamento do CD, em recital no teatro Sesiminas, no próximo dia 18 (leia texto ao lado).


Disco: O Tom de Adélia Prado, poemas de "Oráculos de Maio" com trilha sonora de Fernando Araújo Artistas: Adélia Prado, Mauro Rodrigues, Firmino Cavazza, Carlos Ernest e Fernando Araújo Lançamento: Karmim (tel. 0/xx/31/223-7925) Quanto: R$ 25

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