DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador Jacob Gorender, 76, ganhou ontem o concurso "Intelectual do Ano", promovido pela União Brasileira dos Escritores com patrocínio da Folha. Ele vai receber por isso o Troféu Juca Pato, em data e local a serem escolhidos hoje, em reunião da diretoria da UBE.
Gorender recebeu 189 votos. O fotógrafo Sebastião Salgado, o outro concorrente, teve 136 indicações para o prêmio, que está em sua 37ª edição e que é relativo ao ano de 1999.
O anúncio foi feito na centro cultural Casa Mário de Andrade, em São Paulo, pelo presidente da UBE, o poeta Cláudio Willer.
"Essa vitória me dá uma sensação de estréia", disse Gorender ao fim da cerimônia. "Nunca fui premiado por nada."
O historiador baiano foi indicado pelo livro "Marxismo sem Utopia" (editora Ática"), lançado em outubro do ano passado. Esse é o nono livro do autor dos prestigiados "O Escravismo Colonial" e "Combate nas Trevas".
"Meu marxismo não foi obstáculo para o prêmio, o que considero muito importante. A UBE tem sócios de tendências políticas e literárias muito diversas", disse Gorender, pouco depois de assinar sua ficha de inscrição na entidade.
"Ainda sou marxista, mas o marxismo precisa de modificações", disse à Folha sobre "Marxismo sem Utopia". "Um século e meio depois do "Manifesto Comunista", a constatação que faço é que Marx e Engels ficaram no meio do trajeto entre a utopia e a ciência", explicou Gorender.
Durante o anúncio de sua vitória, o historiador lembrou com humor o tempo em que esteve na clandestinidade. "O autor não é difícil de ser encontrado", dizia Willer, quando Gorender interrompeu com "já fui".
Fundador do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, ele esteve na clandestinidade entre 1964 e 1970, quando foi preso pela equipe do delegado Sérgio Fleury. Solto em 72, trabalhou como tradutor, escreveu e foi professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Atualmente ele escreve o livro "Legado da Escravidão na Sociedade Brasileira", que entrega para a editora Senac em outubro.
Gorender deve receber o Troféu Juca Pato das mãos do bibliófilo José Mindlin, vencedor da edição anterior do prêmio. (CASSIANO ELEK MACHADO)


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