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RACIONAIS
Menos messiânicos, misóginos como antes, mais suingados
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pergunta tem percorrido comentários sobre "Nada como um Dia Após o Outro
Dia", novo disco do mais importante grupo de rap do Brasil: os
Racionais voltam mudados ou
continuam os mesmos?
Há várias respostas possíveis.
Em primeiro nível, soam mudados para menos. O messianismo
(trunfo e ponto fraco na distinção
dos Racionais de tudo o mais que
a MPB tem produzido) não é mais
o mote de frente do grupo.
As referências religiosas/políticas continuam frequentes, mas
no todo o discurso vem mais solto, ou talvez então assimilado. No
papel de condutores ideológicos
de seus fãs, os Racionais soam
mais cuidadosos, embora contundentes como sempre. "Eu tenho ódio e sei que é mau pra mim/ fazer o que se é assim?", relativiza "V.L. (Parte 2)".
Num outro patamar, a misoginia mantém-se brutal, e os adjetivos de desprezo e repulsa contra
as mulheres se esparramam pelos
dois volumes do disco. Soam inaceitáveis, asquerosas, mas exprimem a realidade crua da periferia.
Volte-se à citação de "V.L. (Parte
2)", talvez a resposta esteja ali.
Por fim, se suingue é o calcanhar-de-aquiles do rap nacional,
este disco pode ser o início de
uma virada para os Racionais. O
clima soturno prevalece (mais no
volume "Ri Depois" que no "Chora Agora", em evidente demonstração de que a troca de sinais é a
constante dos Racionais), mas as
bases tentam se adequar a um
maior grau de musicalidade.
A busca de um, digamos, molejo a mais aproxima os Racionais e
o rap do encontro de uma identidade brasileira. Já de início, "Vivão e Vivendo" cita extensos versos de "Charles Jr." (70), de Jorge
Ben. Cassiano e outros heróis da
black music brasileira são citados
em música e encarte.
No final do CD 1, em "1 por
Amor, 2 por Dinheiro", os Racionais testam uma encabulada mudança de humor, fazendo dessa a
faixa mais sacudida (e solenemente divertida) do disco. No final do CD 2, em "Da Ponte pra
Cá", a história se repete.
Há por trás delas um esboço de
suingue, de sorriso, de auto-ironia, de recusa aos rótulos sempre
sinistros colados à militância política e social do rap. Em pique nervoso, revoltado, suingado e levemente brasileiro, os Racionais estão, sim, mudando para a frente. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Nada como um Dia Após o
Outro Dia
Grupo: Racionais
Lançamento: Zambia
Quanto: R$ 23,90 (preço do CD duplo sugerido pelo grupo)
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