São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Temor e tremor

Romances policiais lançados no Brasil pouco antes do atentado na Noruega revelam tensões nos países nórdicos

Mychele Daniau - 22.nov.08/France Presse
O islandês Arnaldur Indridason

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Até os recentes atentados terroristas na Noruega, havia mais sangue nas páginas dos livros nórdicos do que nas ruas dos países da região.
Anders Breivik realizou a macabra tarefa de transformar a arte em realidade. No último dia 22, ele cometeu dois ataques que deixaram ao menos 77 mortos e causaram terror raramente visto na região, mas bastante familiar para quem lê os romances produzidos por lá.
A Noruega e os demais países nórdicos são frequentemente apontados pela ONU como os melhores lugares do mundo para se viver. A julgar apenas pelos romances ali escritos, porém, o leitor pode imaginar que na região é comum ser enterrado vivo ou ter os dedos decepados.
É que vem do norte da Europa a principal onda atual do romance policial. E dois representantes dessa tendência chegam ao mesmo tempo às livrarias do Brasil.
"A Estrela do Diabo", do norueguês Jo Nesbo, sai pela editora Record, e "O Silêncio do Túmulo", do islandês Arnaldur Indridason, pela Companhia das Letras.
Nesbo, 51, ouviu de casa a explosão que destruiu prédios da área central de Oslo, capital da Noruega. O autor preferiu não comentar o assunto na entrevista, mas escreveu um texto sobre as consequências do ataque. Nos últimos anos, quando se falava de violência na Noruega, era quase sempre a Nesbo que se referia.
Ele já foi traduzido para 40 línguas e vendeu mais de 8,5 milhões de livros, todos repletos de assassinatos, torturas e traições. Nesbo estreou na literatura em 1997. Antes disso, já era famoso como vocalista da banda de rock Di Derre. A influência do mundo pop, de certa forma, marcou a criação de seu principal personagem, o inspetor Harry Hole.
Alcoólatra, impulsivo e violento, Hole é o tipo de personagem que o fã de livros policiais espera encontrar nos becos escuros de Los Angeles, e não em Oslo.
"As pessoas me perguntam muito isso, se é difícil se apropriar de certos temas (por exemplo, os serial killers) que não são tão comuns na Noruega como, por exemplo, nos EUA, sem perder a cor local", explicou Nesbo, por e-mail, à Folha.
"Na verdade, o que me fascina é o lado negro da mente. Não me interessa o sofrimento por si só. Cenas de tortura não me interessam como tal", revelou. "Mas eu sou fascinado por pessoas que torturam, por aquilo que as impulsiona."
Curiosamente, no primeiro livro de Nesbo lançado pela Record, "Garganta Vermelha", em 2009, Hole investiga uma rede de tráfico de armas relacionada a grupos ultradireitistas -aos quais, aparentemente, o extremista Breivik também é ligado.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Crime alavancou literatura escandinava
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.