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TEATRO
Peça de Moises Kaufman é baseada nos processos que levaram o escritor à prisão por causa de paixão homossexual
"Indecência Clamorosa" absolve Wilde
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Daquelas raras coincidências,
ou sabe-se lá o quê, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e Oscar Wilde
(1854-1900) vão ao teatro no Centro Cultural São Paulo a partir de
amanhã.
Nomes fundamentais da literatura mundial, eles são chamados
ao palco por meio da adaptação
do romance russo "Crime e Castigo" e da
montagem da peça "Indecência
Clamorosa", sobre o encarceramento do autor irlandês.
Escrita pelo venezuelano Moises Kaufman, radicado nos EUA,
"Indecência Clamorosa" narra a
derrocada social de Wilde por
meio de três processos que o levaram à prisão, em 1895, submetido
a trabalhos forçados. A condenação: prática de sodomia, delito
considerado grave à época.
No ano seguinte, morreria a
mãe de Wilde, que tinha orgulho
do gênio e da arte do filho, mas
sofreu com a sua prisão.
Os autos de três processos serviram como base para a dramaturgia. No primeiro, Wilde (interpretado por Daniel Andrade) vai ao
tribunal contra as difamações do
Marquês de Queensberry (Ricardo Marecos), pai de Alfred Douglas (Augusto Zacchi), jovem
amante do escritor.
No segundo processo, é
Queensberry quem acusa Wilde
de obscenidades, em vão. No terceiro, por fim, o escritor é condenado a passar dois anos na prisão
de Reading. "O último processo
foi feito às pressas, numa espécie
de desempate, sob pressão da opinião pública", diz a diretora Jacqueline Laurence, que soma 45
anos de carreira no teatro.
Fazendo uso da figura do narrador, Kaufman intercala as cenas
de tribunal com comentários de
personagens ilustres, manchetes e
trechos de biografias dos próprios, entre eles o crítico e dramaturgo Bernard Shaw (por Ricardo
Vicente).
Qualidade literária ímpar
A peça, um drama, foi encenada
pela primeira vez em 1997, com a
companhia de Kaufman, a Tectonic Theatre Project. Não demorou
para migrar do circuito off-Broadway, conquistar prêmios e
ser montada em 16 países.
O texto era inédito no Brasil até
maio passado, quando estreou no
Rio de Janeiro com tradução de
Bárbara Heliodora.
"Mais do que o brilho e o exibicionismo do esteta, "Gross Indecency" nos mostra o quanto ele
era sério em relação à sua arte, e o
quanto foi ímpar sua qualidade literária", diz Heliodora, que destaca inteligência, criatividade e erudição do poeta, prosador e dramaturgo que escreveu, entre outras peças, "Salomé" e "A Importância de Ser Prudente" (ou
"Fiel", na versão do Tapa).
INDECÊNCIA CLAMOROSA. De: Moises
Kaufman. Tradução: Bárbara Heliodora.
Direção: Jacqueline Laurence. Com:
Augusto Nascentes, Augusto Zacchi,
Fabrício Belsoff, Gustavo Rodrigues,
Henrique Manoel Pinho, Moacyr Siqueira
e outros. Onde: Centro Cultural São Paulo
- sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000,
Paraíso, SP, tel. 0/xx/11/3277-3611).
Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e
sáb., às 21h; dom., às 20h; até 10/10.
Quando: R$ 10 (R$ 1,30 no dia 24/9).
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