São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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TEATRO

Peça de Moises Kaufman é baseada nos processos que levaram o escritor à prisão por causa de paixão homossexual

"Indecência Clamorosa" absolve Wilde

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Daquelas raras coincidências, ou sabe-se lá o quê, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) e Oscar Wilde (1854-1900) vão ao teatro no Centro Cultural São Paulo a partir de amanhã.
Nomes fundamentais da literatura mundial, eles são chamados ao palco por meio da adaptação do romance russo "Crime e Castigo" e da montagem da peça "Indecência Clamorosa", sobre o encarceramento do autor irlandês.
Escrita pelo venezuelano Moises Kaufman, radicado nos EUA, "Indecência Clamorosa" narra a derrocada social de Wilde por meio de três processos que o levaram à prisão, em 1895, submetido a trabalhos forçados. A condenação: prática de sodomia, delito considerado grave à época.
No ano seguinte, morreria a mãe de Wilde, que tinha orgulho do gênio e da arte do filho, mas sofreu com a sua prisão.
Os autos de três processos serviram como base para a dramaturgia. No primeiro, Wilde (interpretado por Daniel Andrade) vai ao tribunal contra as difamações do Marquês de Queensberry (Ricardo Marecos), pai de Alfred Douglas (Augusto Zacchi), jovem amante do escritor.
No segundo processo, é Queensberry quem acusa Wilde de obscenidades, em vão. No terceiro, por fim, o escritor é condenado a passar dois anos na prisão de Reading. "O último processo foi feito às pressas, numa espécie de desempate, sob pressão da opinião pública", diz a diretora Jacqueline Laurence, que soma 45 anos de carreira no teatro.
Fazendo uso da figura do narrador, Kaufman intercala as cenas de tribunal com comentários de personagens ilustres, manchetes e trechos de biografias dos próprios, entre eles o crítico e dramaturgo Bernard Shaw (por Ricardo Vicente).

Qualidade literária ímpar
A peça, um drama, foi encenada pela primeira vez em 1997, com a companhia de Kaufman, a Tectonic Theatre Project. Não demorou para migrar do circuito off-Broadway, conquistar prêmios e ser montada em 16 países.
O texto era inédito no Brasil até maio passado, quando estreou no Rio de Janeiro com tradução de Bárbara Heliodora.
"Mais do que o brilho e o exibicionismo do esteta, "Gross Indecency" nos mostra o quanto ele era sério em relação à sua arte, e o quanto foi ímpar sua qualidade literária", diz Heliodora, que destaca inteligência, criatividade e erudição do poeta, prosador e dramaturgo que escreveu, entre outras peças, "Salomé" e "A Importância de Ser Prudente" (ou "Fiel", na versão do Tapa).


INDECÊNCIA CLAMOROSA. De: Moises Kaufman. Tradução: Bárbara Heliodora. Direção: Jacqueline Laurence. Com: Augusto Nascentes, Augusto Zacchi, Fabrício Belsoff, Gustavo Rodrigues, Henrique Manoel Pinho, Moacyr Siqueira e outros. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, SP, tel. 0/xx/11/3277-3611). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 10/10. Quando: R$ 10 (R$ 1,30 no dia 24/9).


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