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GASTRONOMIA
França luta para se adaptar ao novo mundo do vinho
ANTHONY ROSE
DO "INDEPENDENT"
Os produtores de vinho franceses estão em crise, e a safra recorde que estão prontos a colher não
vai ajudar. Mesmo em um período de abundância, todas as regiões vinícolas estão repletas de
placas de "vende-se", e o desânimo é tão visível que qualquer artista depressivo encontraria rica
inspiração.
Por quê? Em um mercado mundial ferozmente competitivo, tornou-se cada vez mais difícil para a
França vender seus vinhos. As regras do sistema de denominação
de origem controlada, normas
pouco amistosas de rotulação,
preços historicamente altos e vinhos cujo apelo é passadista conspiram contra os vitivinicultores
franceses. Não importa o passado
revolucionário da França, o que é
preciso agora é uma mudança radical nos regulamentos conservadores e pouco competitivos que
regem o setor vinícola.
A burocracia é tão forte quanto
o sabor do vinho. As rígidas e antiquadas regras de denominação
de origem sufocam a criatividade
e estrangulam os produtores a
quem o sistema foi criado para
proteger. Com suas variedades de
uvas e marcas reconhecíveis, o
novo mundo conseguiu eclipsar
as autênticas virtudes do charme
e da tradição franceses.
Você consegue distinguir o seu
Faugères do seu Corbières? "Não
adianta vender vinhos classificados por denominação de origem", diz Gavin Crisfield, vinicultor inglês em La Sauvageonne, no
Languedoc, "porque ninguém sabe o que são ou a que região as denominações se referem".
Trata-se de um problema agravado pela Lei Evin, que restringe a
publicidade de vinho. Não importa que os outdoors franceses estejam todos ocupados por lindas
mulheres tentando vender de hidratantes a salsichas: associações
publicitárias entre o consumo de
vinho e o sexo não são permitidas,
e campanhas publicitárias para os
vinhos Bordeaux e Borgonha violaram a lei e foram proibidas.
À medida que a competição do
restante do mundo e o excesso de
produção francês derrubam os
preços, se torna mais e mais difícil
para os vinicultores da França
manter as contas em dia. Para
Frantz Vènes, produtor da região
de Minervois, "a produção do vinho minervois custa 5.000 por
hectare, mas o mercado vinícola
só paga 3.000 para quem vende
vinho genérico. A menos que o
produtor disponha de uma marca
relativamente conhecida, é melhor jogar fora a chave da adega".
Vender o vinho engarrafado, e
não em grandes quantidades, só é
opção para o mercado de exportação. E sem marcas conhecidas, a
França está perdendo terreno.
Excetuado o champanhe, suas
exportações de vinho caíram 9%
até agora este ano. A região de
Bordeaux foi uma das mais prejudicadas, com as exportações de
todas as marcas exceto as mais
prestigiosas caindo em quase 12%
até agora. A situação é tão desfavorável que o governo francês está oferecendo subsídios para a eliminação de vinhedos, com o objetivo de reduzir o excesso de produção e também para fins de promoção e marketing. Mas o excesso de vinho caro e de qualidade
medíocre não é o único problema.
A proposta mais radical do governo é permitir que as regiões de
Bordeaux e Borgonha produzam
"vins de pays" (vinhos do campo). Atualmente, os vinhos Bordeaux e Borgonha só podem conter em seu rótulo a expressão denominação de origem controlada,
enquanto os vins de pays podem
incluir informações sobre a variedade de uva usada. Bordeaux e a
Borgonha teriam de abandonar o
sistema de denominação de origem em troca da identificação de
variedades de uva, um sistema de
rotulação que facilita o marketing. Outras restrições que se aplicam aos vinhos de denominação
de origem, como a proibição do
uso de lascas de madeira para
acrescentar sabor e a proibição de
irrigação nos vinhedos, práticas
comuns no novo mundo, também podem ser suspensas.
Será que isso ajudará a deter a
decadência? O governo francês é
burocrático e lento, e o relaxamento das restrições pode chegar
tarde demais para os combalidos
produtores. O futuro depende de
uma nova geração de vinicultores,
com atitudes mais combativas.
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