São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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MÔNICA BERGAMO

GUARDA-ROUPA PRESIDENCIAL


Acervo Pessoal
O estilista tira as medidas de sua cliente mais famosa, Marisa Letícia da Silva, no Palácio


"Fiz tudo de graça"

Quem pagou pelos 27 tailleurs e 15 ternos que o estilista capixaba Ivan Aguilar fez para a primeira-dama, Marisa Letícia, e o presidente Lula no ano passado? Pelas declarações contraditórias que o próprio estilista já deu sobre o assunto, a confusão é grande. Primeiro ele disse que a Presidência arcou com os custos -algo como R$ 30 mil, já que ele cobra de R$ 800 a R$ 1.200 por peça. Logo se corrigiu: o próprio presidente Lula teria pago, com cheque e tudo. O Palácio do Planalto, na época, não contestou as declarações. Agora, surge uma terceira explicação de Aguilar: as roupas foram doadas ao casal. O Palácio do Planalto endossa a versão. Em SP para o lançamento de sua coleção de verão, Aguilar falou à coluna:

 

Folha - Para esclarecer: quem pagou as roupas do presidente Lula e de dona Marisa? Você primeiro declarou que foi a Presidência.
Aguilar -
Falei isso por uma questão de ética. Sabe quando o jornalista te pega de surpresa e você fala uma besteira? Quando eu comecei a dar entrevista sobre esse assunto, nunca pensei que as pessoas fossem perguntar essa questão. Sabe como? Então eu simplesmente falei: vendia. E na verdade não era vendido. Nada era vendido.

Folha - Mas depois você declarou à coluna que "é ele, presidente Lula, quem paga normalmente". Com cheque.
Aguilar -
É, falei que ele dava cheque e tudo.

Folha - Você disse também: "Quando a dona Marisa quer comprar mais do que pode, ele [Lula] fala nada disso, nem pensar, está muito caro". Como se ele pagasse pelas roupas.
Aguilar -
Aconteceu o seguinte: fui a Brasília [no segundo semestre de 2004] levar roupas para a primeira-dama. Dona Marisa e eu ficamos o dia inteiro vendo roupa. Deixei 18 conjuntos com ela e ia cobrar, pela primeira vez, pelas peças. Aí um dos assessores [da Presidência] me ligou e falou: "Ivan, o Lula brigou com dona Marisa. Achou que ela comprou demais. Ele quer que você volte aqui para retirar algumas coisas porque ela não vai ficar com tudo." Eu estava num compromisso e não pude passar lá para pegar as roupas. No dia seguinte, voltei para Vitória (ES).

Folha - O presidente Lula já tinha pago pelas roupas?
Aguilar -
Ele ia pagar depois. Essa foi a única vez que eu cobrei. Estou falando a verdade pura. Das outras vezes eu não tinha cobrado nada.

Folha - E você já tinha ido lá outras vezes?
Aguilar -
Já, várias vezes. Era sempre pouca encomenda, entendeu? Dois, três terninhos. Não dava para eu cobrar. Presta atenção: você está dando uma roupa para o presidente e para a dona Marisa. Você não cobra. E aquilo redunda em estratégia de marketing para você.

Folha - Você, afinal, pegou parte das roupas de volta?
Aguilar
Eu fiz aquelas roupas exclusivamente para ela, sob medida. Não teria para quem vender. Eu fiz as contas: fiz 18 peças. Se ela pagasse por três, não cobriria nem o gasto da costura, da linha. Então falei [para a assessoria de Lula]: "Diz para a dona Marisa que é tudo presente".

Folha - E o cheque que o Lula teria dado a você?
Aguilar -
Eu nunca recebi. Disse isso na época por uma questão de ética. Eu não queria que parecesse que eles estavam tirando proveito de serem o casal presidencial. Diante de Deus, é a pura verdade. Me arrependo amargamente de ter falado aquilo. Falei por impulso. Depois combinei com com a assessora de imprensa de dona Marisa que ia falar toda a verdade.

Folha - Você então deu 27 terninhos para ela?
Aguilar -
Foi mais ou menos isso. Acho até que foi mais um pouco.

Folha - Que prejuízo, hein?
Aguilar -
Não foi prejuízo. O retorno publicitário foi super-bacana. Por estratégia de marketing, eu teria dado até mais.

Folha - Nunca houve pagamento com cartão de crédito da Presidência?
Aguilar -
Nunca houve. Nunca conheci Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT], nunca tinha ouvido falar de [Marcos] Valério [publicitário que enviava recursos a petistas]. Nunca vi Delúbio na minha vida.

Folha - Calma, nem te perguntei isso.
Aguilar -
É que uma coisa leva à outra, né? Eu sei que você quer chegar lá.

GERENTE
O ex-ministro José Dirceu anda elogiando a gestão de José Serra (PSDB-SP) em São Paulo. Já chegou a dizer que o prefeito está melhorando a cidade.

LEGAL
Jeany Mary Corner vai regularizar suas atividades. Ela vai abrir um escritório de verdade em Brasília -até hoje, trabalhava em casa -e montar uma empresa para pagar impostos. Quer voltar a trabalhar em um mês, depois que a confusão em Brasília envolvendo seu nome já for coisa, espera, do passado. Quanto à sua lista de clientes... "Não existe", diz o advogado Ismar de Freitas Junior. "Não tem lista para ser entregue na CPI. Nem de brincadeira", afirma.

EXTERIOR
De partida para Washington (EUA), a empresária Cosette Alves não deve voltar tão cedo ao Brasil. Pretende ficar por lá até o fim de outubro. "Não vou apoiar quem quer que seja com jantares, reuniões ou recepções, pois moro em outro país", diz. Cosette se refere à possibilidade de ajudar José Dirceu em contatos com empresários. "É inviável. Estarei longe."

GATINHAS E GATUNOS
O crime na era da malhação: um casal de ladrões bem apessoados, vestindo roupas de ginástica de grife, tem circulado pelas ruas dos Jardins nos finais de semana. Já assaltaram moradores que fazem caminhada. Principais alvos: Ipods, óculos de grife e, claro, dinheiro.

AGUÁ NEGRRRÁ
"Água Negra", o filme de terror psicológico do brasileiro Walter Salles, recebeu ontem sua melhor crítica até agora, no jornal francês de esquerda "Libération". O longa, aliás, é o primeiro da bilheteria francesa.

PRETÉRITO IMPERFEITO
A atriz Luciana Vendramini batizou de "Retrogosto" o livro que acabou de escrever sobre os cinco anos que viveu com transtorno obsessivo compulsivo (TOC). "Tô até com medo. É tudo muito trash", diz. "Vou falar desde o dia em que enfiei um cabo de escova na garganta aos dez dias que fiquei trancada em casa sem comer."


@ - bergamo@folhasp.com.br

JOÃO LUIZ VIEIRA E DANIEL BERGAMASCO


CURTO-CIRCUITO

O guitarrista Junior Boca, o baixista Rian Batista e o baterista Humberto Zigler tocam hoje, entre 19h e 22h, no restaurante do Museu da Imagem e do Som.
A peça "A Viagem de Alice - do Céu ao Apocalipse", de Ricardo Monteiro, estréia hoje, no teatro Paulo Eiró.
Paulo Maluf recebe hoje amigos em seu escritório da av. Europa para celebrar, de véspera, seu aniversário.
O livro "O Poder que Vem do Seu Nome", de Aparecida Liberato e Beto Junqueyra, caminha para a segunda edição.
Rosa Moraes e a Universidade Anhembi Morumbi promovem hoje aula do estrelado chef paraense Paulo Martins.
A produtora Tecnopop lança hoje, na Fnac Paulista, o conjunto de livro e DVD "Alexandre Wollner e a Formação do Design Moderno no Brasil".


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