São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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CINEMA/ESTRÉIAS

"Coisa Mais Linda" mostra limitada visão de almanaque para o estilo musical de Tom e João Gilberto

Documentário congela bossa nova no tempo

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Existem duas bossas novas. Aquela surgida dos dedos e vozes de Tom Jobim e João Gilberto é, por essência, a máxima modernidade brasileira. O movimento jovem que se apropriou das criações dos dois músicos, que falava de praias, barquinhos, lobos, Marias, era e sempre foi, apesar de seu inegável charme, algo menor.
Assim como, independente de seus talentos musicais -inquestionáveis-, músicos como Roberto Menescal e Carlos Lyra são artistas menores da bossa nova, se comparados com Tom e João.
Pois o novo documentário de Paulo Thiago ("Coisa Mais Linda") reconta a história da bossa nova por meio da interessante visão periférica desses dois músicos, antes e depois do advento da revolucionária batida de violão de João. Teria tudo para ser ótimo, se não fosse ruim.
Careta, simplista, panfletário, saudosista, anacrônico e transbordando clichês (João Gilberto é "o mito", Nara Leão é "a musa", bossa nova é "um estado de espírito"), o filme acaba por criar uma enorme caricatura, como se o diretor realmente acreditasse nessa visão de almanaque sobre a bossa nova.
Na prática, o filme funciona assim: Roberto Menescal e Carlos Lyra são filmados em película dando depoimentos, tocando juntos, visitando lugares importantes para a história da bossa nova e contando histórias.
Johnny Alf, Paulo Jobim, João Donato, Miéle, Cacá Diegues e outros são filmados em filme digital preenchendo lacunas da história e contando outros detalhes.
Algumas poucas cenas de arquivo aparecem, de especial interesse uma de Sylvinha Telles cantando na televisão e outra de João e Tom cantando na praia, em um filme dos anos 60.

Um bom tema
Se é difícil imaginar como um ponto de partida tão interessante pode render um material tão pobre, com uma visão tão limitada do que significa a bossa nova, é só perceber: essas pessoas, que foram a elite cultural de uma época, hoje estão -triste e inevitavelmente- congeladas no tempo.
É a comprovação absoluta de que um bom assunto não necessariamente rende um bom documentário.


Coisa Mais Linda
 
Direção: Paulo Thiago
Produção: Brasil, 2005
Com: Carlos Lyra, Roberto Menescal
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex 4


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