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MÚSICA
Álbum gravado a partir de originais de acetato registrados em 1945 exibe brilho do saxofone de "Bird" e do trompete de Dizzy
Obra perdida de Parker/Gillespie sai em CD
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nova York, 22 de junho de 1945.
Charlie Parker, Dizzy Gillespie e
mais um punhado de músicos sobem ao palco do Town Hall. No
cardápio, a nascente era bebop.
Passados 60 anos, os amantes
do jazz poderão ouvir -pela primeira vez, na esmagadora maioria dos casos- essa histórica
apresentação.
Tido como perdido por décadas, fazendo parte das gravações
lendárias para poucos, o show foi
reencontrado, digitalizado e acaba de chegar às lojas.
A história da descoberta dos
acetatos de 12 polegadas, que
guardaram a apresentação mítica
por todo esse tempo, não é certa.
Mas permitiu que o aniversário
de 50 anos de morte do saxofonista Charlie "Bird" Parker (1920-1955) não passasse em branco.
As faixas do CD são bem conhecidas dos amantes do jazz e foram
tocadas incontáveis vezes pela dupla Parker-Gillespie. Mas essas
versões são especiais por diferentes motivos. O principal deles é
que o estilo conhecido como bebop ainda estava dando seus primeiros passos: a gravação tida como o "marco" do início do novo
jazz data de só um mês antes.
Em seis faixas (mais uma "intro"), Parker-Gillespie dão mostras do som que dominaria a cena
jazzística nos anos seguintes. Músicas como "Bebop", "Groovin"
High" e "Hot House", que estão
no CD, virariam hinos do estilo.
Essa seria facilmente a descoberta jazzística do ano. Mas, no
início de 2005, pesquisadores já
haviam noticiado que se depararam com gravações até então desconhecidas do quarteto do pianista Thelonius Monk com John Coltrane, de um concerto realizado
no Carnegie Hall em novembro
de 1957, que estavam perdidas pelos arquivos da biblioteca do Congresso americano.
Com todo seu peso histórico, o
álbum de Parker e Gillespie chega
ao mercado com o selo de "clássico", não deixando nada a dever,
em termos de importância, para a
mais conhecida apresentação da
dupla, reunida no disco "Jazz at
the Massey Hall". Lançado por
aqui em 2003, o álbum, resultado
de uma apresentação feita em
1953, tinha o diferencial de juntar
no mesmo palco outros monstros: Parker, Gillespie, Charles
Mingus (baixo), Bud Powell (piano) e Max Roach (bateria).
Apenas seis meses depois da
apresentação recém-lançada,
Parker gravaria, na condição de líder, um álbum onde mostraria todo o esplendor do novo jazz que
chegava. No show do Town Hall
de junho de 1945, Parker subiu ao
palco como convidado do quinteto de Gillespie, que era mais conhecido que o saxofonista.
O primeiro encontro do trompete de Dizzy com o sax de "Bird"
se deu numa "jam session", em
1940, época em que as big bands
ainda eram referência quando a
palavra era jazz. Não é difícil imaginar o susto que esses dois causaram nas platéias naquele início
dos anos 40, quando se venerava
Benny Goodman e companhia.
Nascimento do jazz
As gravações do Town Hall são
preciosas por trazerem a dupla ao
vivo, em um período marcante do
começo de suas carreiras.
Segundo Fred Kaplan, crítico do
"New York Times": "Em resumo,
esse disco nos transporta para o
nascimento do jazz moderno".
Robert Sunnenblick, dono do
selo Uptown, que lançou o CD, foi
o responsável pela garimpagem
que levou ao concerto inédito.
Mas as informações sobre como
se deu a descoberta não são precisas. Há pelo menos duas versões:
uma diz que os acetatos estavam
em poder do filho de um jazzófilo
colecionador já morto. A outra
que os discos estavam escondidos
no acervo de alguma pequena biblioteca americana.
A qualidade do CD que acaba de
ser lançado também não deixa
nada a desejar, tendo boa altura e
pouco chiado. Como se isso fosse
o mais importante.
Town Hall, New York City, June 22, 1945
Artista: Charlie Parker/Dizzy Gillespie
Lançamento: Uptown
Quanto: US$ 17, em média (R$ 40; www.amazon.com)
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