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"Gaijin 2" desafia contexto "dramático"
DA REPORTAGEM LOCAL
Lá se vão 20 anos desde que a cineasta Tizuka Yamasaki lançou o
longa-metragem "Patriamada". E
parece que foi ontem.
"O filme estava indo muito
bem. Mas, uma semana depois da
estréia, o [presidente eleito] Tancredo Neves foi para o hospital, e
meu público, para a frente da
TV", relembra Tizuka.
Com "Gaijin - Ama-me como
Sou", seu novo filme, que a diretora põe à prova a partir de hoje
em 120 salas brasileiras, Tizuka ao
menos não será surpreendida.
"Sei que estamos num momento dramático. Mas estrear agora é
nossa resistência em achar que tudo parou", ela diz. Refere-se tanto
à crise política brasileira, que deixa outra vez os espectadores estacionados em frente à TV, como à
tendência mundial de queda de
público nos cinemas.
Com a saga de imigrantes japoneses que elegem o Brasil como
nova pátria para amar, no início
do século 20, baseada em sua história familiar, Tizuka pretende
reintroduzir às salas do país um
público que se afastou delas há
décadas -o familiar.
"A censura do regime militar fez
com que o cinema brasileiro buscasse o caminho da pornochanchada, que não interessa às famílias, ou o da excessiva alegoria, na
vertente autoral, que também fala
para poucos", diz.
Ao mirar o alvo das famílias,
"Gaijin - Ama-me Como Sou"
tem a companhia do já estreado
(com grande sucesso) "2 Filhos de
Francisco", de Breno Silveira.
"Acendo uma vela todo dia pelo
filme do Breno. Sabemos que um
grande sucesso esquenta o mercado para outros", diz Tizuka.
Ainda na seara das regras da
atração do público de cinema, a
diretora afirma que um filme
"não deve ser armado para vender, mas para conquistar".
Desdobramento dessa teoria,
para Tizuka, é o fato de que
"quanto mais um diretor fala de
sua intimidade, mais ele ganha a
confiança do público".
"Gaijin - Ama-me como Sou",
centrado nas personagens femininas de quatro gerações de uma
mesma família, fala bastante sobre a intimidade de Tizuka.
Talvez por isso a diretora refute
com ênfase críticas que ouviu no
mês passado, durante o 33º Festival de Gramado, de onde, no entanto, o filme saiu com os Kikitos
de melhor título de ficção, melhor
direção, melhor música (Egberto
Gismonti) e melhor atriz coadjuvante (Aya Ono, revelação aos 78
anos de idade).
"Não acho que se possa chamar
de banal ou água-com-açúcar um
romance em que as pessoas precisam se separar, amadurecer e descobrir como ficar juntas", diz.
Na tela, essa é a história de Maria, vivida pela atriz norte-americana Tamlyn Tomita, e de Gabriel, interpretado pelo cubano
Jorge Perrugoria, primeiro gaijin
(estrangeiro) a entrar na família.
Tizuka, 56, acha que Maria é representativa das mulheres de sua
geração, "que decidiram fazer tudo sozinhas", ter filhos inclusive.
"Isso teve um preço. E agora estamos nos perguntando se valeu a
pena", afirma.
Sem dominar suficientemente o
português, Tomita e Perrugoria
foram dublados. Ele, pelo ator
Chico Díaz. Ela, por Eda Nagayama, que também atua no filme,
como Shinobu, quando jovem.
Tizuka sabe que a dublagem incomodou a crítica. Diz que, pelo
que observou do público nas pré-estréias do filme, esse aspecto incomodou apenas a crítica.
No mais, "Gaijin - Ama-me como Sou" intenciona traduzir -o
diferente, como indica seu título-, não dublar a realidade.
(SILVANA ARANTES)
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