São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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CRÍTICA

Superprodução de Tizuka naufraga em drama familiar inflado

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Gaijin", em japonês, quer dizer estrangeiro. E o primeiro -e excelente- "Gaijin", filmado em 1980 por Tizuka Yamasaki, tratava justamente disso: a condição do estrangeiro (o imigrante japonês) numa nova terra (o Brasil).
Em "Gaijin - Ama-me como Sou", a cineasta retoma e amplia a mesma saga, desta vez com o amparo de uma superprodução.
Paradoxalmente, porém, o incremento de recursos, o acréscimo de novos assuntos e o alargamento do espectro temporal (cobre-se agora um período de quase cem anos) não propiciam a este "Gaijin 2" uma força maior que a do primeiro.
Pelo contrário. A respiração épica que anima a primeira terça parte do filme cede terreno cada vez mais a um melodrama familiar um tanto inflado. Nada contra o melodrama. Douglas Sirk, Fassbinder, Almodóvar e até Janete Clair fizeram maravilhas com ele.
O problema, em "Gaijin 2", é o enquadramento do épico em esquemas surrados de conflito melodramático. Há uma redundância expositiva, de matiz televisivo, que leva os personagens a agirem de acordo com clichês e dizerem banalidades como: "É no Natal que a gente mais sente falta da família".
O tamanho da produção acaba se revelando uma armadilha, por trazer novos percalços. O maior deles, que realça a artificialidade dos diálogos, é a dublagem dos astros estrangeiros, a norte-americana Tamlyn Tomita (Maria) e o cubano Jorge Perugorría (seu marido Gabriel).
Mas há também a inexplicável e inoportuna aparição das cataratas do Iguaçu, numa cena de crise íntima de Gabriel. Pode ser que a intenção fosse a de criar uma analogia entre a turbulência da natureza e a perturbação interior do personagem, mas para o espectador soa como um agrado aos órgãos e empresas paranaenses que apoiaram o filme.
Há dois momentos em que "Gaijin 2" promete decolar: quando Londrina é construída pelas mãos de imigrantes de várias origens e quando descendentes de duas gerações voltam ao Japão para tentar a vida lá. Nos dois casos, porém, a promessa não se cumpre, e tudo desemboca numa trama telenovelesca que deixa em segundo plano a condição estrangeira. Uma pena.


Gaijin - Ama-me como Sou
  
Direção: Tizuka Yamasaki
Produção: Brasil, 2005
Com: Tamlyn Tomita, Kyoko Tsukamoto
Quando: a partir de hoje nos cines Metrô Santa Cruz, Extra Anchieta e circuito


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