São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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BIA ABRAMO

Novela é coisa de homem?


É clara a intenção da Record de fazer novela que seja capaz de atrair a atenção masculina

AOS POUCOS , a Record começa a experimentar novidades em suas telenovelas. Sem deixar de lado o esforço de chegar o mais próximo possível da fórmula (ou melhor, das fórmulas) que já foram testadas e aprovadas pela Globo, aqui e ali surgem traços que, eventualmente, podem levar a emissora a constituir um jeito próprio de fazer telenovela. Um deles é tentar atender o público masculino.
Se em "Vidas Opostas" o caminho foi um investimento claro no binômio ação-violência, em "Caminhos do Coração", que estreou nesta semana, a inspiração claríssima são os seriados norte-americanos -"Heroes", mais especificamente- e os filmes de super-heróis.
Onde a antecessora era mais "adulta" e carregava, às vezes excessivamente, nas tintas de um certo realismo social, agora a opção é mais juvenil, mais fantasiosa.
Mesmo com as diferenças, é clara a intenção de fazer novela que seja capaz de atrair a atenção masculina, de uma maneira ou de outra. Isso, evidentemente, não significa que os elementos tradicionais estejam removidos. Ao contrário, a julgar pela quantidade enorme de personagens, vai ter de tudo: intriga, romance, drama e mutantes a valer.
É claro que os fãs hardcore de "Heroes" vão torcer o nariz para a inverossimilhança do roteiro -os mutantes em questão são fruto de experiências com biotecnologia iniciadas no início dos anos 80 (!?) numa clínica no Guarujá (?!?)-, para uma certa precariedade dos efeitos especiais e para uma certa incompetência das cenas de ação.
Mas, para o público em geral, a trama em torno dessas crianças e jovens com poderes especiais deve funcionar, ao menos até o momento em que representar uma novidade.
Como manter a novidade e o frescor atrelado ao formato da telenovela é que são elas. Nos seriados norte-americanos, o volume dos acontecimentos é muito menor -em geral, cada temporada dura entre 12 e 15 episódios de uma hora, exibidos uma vez por semana-, o que dá fôlego para manter a atenção por vários meses. O ritmo diário da novela é bem mais brutal e vai exigir uma enorme capacidade inventiva.
De qualquer maneira, a aposta em uma atração unissex, ou seja, que combine os apelos para o público masculino e o feminino é bem acertada. Os espectadores de TV mais jovens, já há dez anos inundados por um massa de informações mais diversa e mais cosmopolita, tanto por conta da TV paga como por conta da internet, configuram um público de espécie nova, também mutante, e tentar descobrir por onde vai sua atenção e seu gosto é uma tarefa básica de sobrevivência.


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