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BIA ABRAMO
Novela é coisa de homem?
É clara a intenção da Record de fazer novela que seja capaz de atrair a atenção masculina
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AOS POUCOS , a Record começa a
experimentar novidades em
suas telenovelas. Sem deixar
de lado o esforço de chegar o mais
próximo possível da fórmula (ou
melhor, das fórmulas) que já foram
testadas e aprovadas pela Globo,
aqui e ali surgem traços que, eventualmente, podem levar a emissora a
constituir um jeito próprio de fazer
telenovela. Um deles é tentar atender o público masculino.
Se em "Vidas Opostas" o caminho
foi um investimento claro no binômio ação-violência, em "Caminhos
do Coração", que estreou nesta semana, a inspiração claríssima são os
seriados norte-americanos -"Heroes", mais especificamente- e os
filmes de super-heróis.
Onde a antecessora era mais
"adulta" e carregava, às vezes excessivamente, nas tintas de um certo
realismo social, agora a opção é mais
juvenil, mais fantasiosa.
Mesmo com as diferenças, é clara
a intenção de fazer novela que seja
capaz de atrair a atenção masculina,
de uma maneira ou de outra. Isso,
evidentemente, não significa que os
elementos tradicionais estejam removidos. Ao contrário, a julgar pela
quantidade enorme de personagens,
vai ter de tudo: intriga, romance,
drama e mutantes a valer.
É claro que os fãs hardcore de "Heroes" vão torcer o nariz para a inverossimilhança do roteiro -os mutantes em questão são fruto de experiências com biotecnologia iniciadas
no início dos anos 80 (!?) numa clínica no Guarujá (?!?)-, para uma certa
precariedade dos efeitos especiais e
para uma certa incompetência das
cenas de ação.
Mas, para o público em geral, a trama em torno dessas crianças e jovens com poderes especiais deve
funcionar, ao menos até o momento
em que representar uma novidade.
Como manter a novidade e o frescor atrelado ao formato da telenovela é que são elas. Nos seriados norte-americanos, o volume dos acontecimentos é muito menor -em geral,
cada temporada dura entre 12 e 15
episódios de uma hora, exibidos
uma vez por semana-, o que dá fôlego para manter a atenção por vários
meses. O ritmo diário da novela é
bem mais brutal e vai exigir uma
enorme capacidade inventiva.
De qualquer maneira, a aposta em
uma atração unissex, ou seja, que
combine os apelos para o público
masculino e o feminino é bem acertada. Os espectadores de TV mais jovens, já há dez anos inundados por
um massa de informações mais diversa e mais cosmopolita, tanto por
conta da TV paga como por conta da
internet, configuram um público de
espécie nova, também mutante, e
tentar descobrir por onde vai sua
atenção e seu gosto é uma tarefa básica de sobrevivência.
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