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COMENTÁRIO
Suas lentes deram contorno à beleza e à atitude americana
EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Dono de um estilo personalíssimo, Richard Avedon foi
o fotógrafo de moda e retratos
mais marcante da metade do século passado. A beleza, a cultura e
a atitude americana ganharam
forma e contorno através de suas
lentes e do fundo infinito branco
de seu estúdio em Nova York.
A fotografia de moda, na qual o
fotógrafo atua como um diretor
de cena nos moldes do cinema,
buscando relações estéticas entre
a roupa, a modelo, o cenário e a
atitude que denotam a época vivida, passou a existir pós-Avedon.
Com ele a fotografia de moda se
tornou domínio do fotógrafo,
muito mais que da modelo. O
universo estético do estilista e da
coleção passou a receber uma espécie de transcriação do conceito
artístico ali embutido. Com argúcia, Avedon injetou subjetividade
para conseguir, enfim, atribuir
elegância e poesia onde antes havia uma expressão tímida e racional da indústria da moda. Suas fotos de moda hoje podem ser vistas
como um documentário bem
acabado sobre a feminilidade e a
cultura do nosso tempo.
Filho do proprietário de uma loja de roupas da Quinta Avenida e
de uma mãe vinda de uma família
que tinha uma confecção, Avedon
quando criança decorava as paredes do quarto com fotos de moda.
Mas, se a moda serviu para catapultar esse ser obsessivo por trabalho, muito magro, de cabelos
desgrenhados e descendente de
judeus russos ao apogeu, foram
os retratos nos quais sua sensibilidade e técnica convergiam de forma apurada que fizeram o fotógrafo famoso ganhar lugar cativo
na história da fotografia.
O fundo neutro, branco, do seu
estúdio servia para não interferir
na figura a ser fotografada. Muitas
vezes Avedon fotografava sem
olhar no visor da câmera. O olho
estava no modelo à sua frente, do
qual ele tentava extrair o máximo
de expressividade. A composição,
dessa forma, se dava muitas vezes
por esse acaso provocado. Era sua
forma de criticar um excesso de
formalismo vigente e conseguir,
de quebra, avançar na linguagem.
Certa vez, disse que o fundo
branco de seu estúdio não era metáfora da ausência, mas sim uma
remissão ao branco que ele viu
nas imagens da explosão da bomba atômica de Hiroshima (1945).
Sobre a preferência de fotografar em estúdios, disse: "Ao isolar
as pessoas de seu ambiente, elas se
tornam símbolos de si mesmas.
Muitas vezes tenho a sensação de
que as pessoas vêm a mim para
serem fotografadas, assim como
procurariam um médico ou um
vidente para saber como estão... E
quando o trabalho do modelo termina -quando a foto está feita-
nada resta senão a foto. A foto e
um tipo de constrangimento. Elas
vão embora e eu não as conheço.
Tenho a sensação de não ter de fato estado lá. A parte de mim que
esteve lá se encontra na foto. E as
fotos têm, para mim, uma realidade que as pessoas não têm".
Ao dotar suas fotos de uma realidade que o tempo e as pessoas
parecem não ter, Avedon tornou
eterno não o glamour e a elegância do mundo aparente, mas sim a
beleza do mundo contida na imprevisibilidade que ele encerra.
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