São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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TV PAGA

Grandeza do "Titanic" está nos detalhes

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Bons filmes costumam ter um valor metafórico de longo alcance. Os significados mudam, são constantemente atualizados e nessa medida continuam presentes e ativos em nosso imaginário.
"Titanic" (Telecine Pipoca, 18h30) não nos fala só de um desastre naval, embora fale dele com uma competência raras vezes vista. Mas não há aí um sentido conotado, o de uma humanidade que se sente segura em sua condição e que mansamente prepara sua própria catástrofe (no domínio ecológico, por exemplo)? Ou o de uma nação que se sente segura a ponto de invadir outros países e acreditar que pode sair impune?
Mas nada disso importa se o motivo central fracassar. Quanto mais vejo o "Titanic" de James Cameron, mais me impressiona. Nos últimos tempos a TV o exibe de modo compulsivo, de maneira que às vezes é possível ver apenas um trecho, evitando o envolvimento que o roteiro proporciona.
Outro dia foi o "grand finale": o naufrágio. Fala-se, com razão, dos enormes custos do filme, dos efeitos especiais, da busca de realismo. De fato, os efeitos contam. Mas não é deles que vem a dramaticidade. De repente, e a situação a bordo já é calamitosa, percebemos um fio de água tomando o convés. Em situação normal, poderia ser alguém tratando de lavá-lo. Mas sabemos que não. Subitamente a angústia cresce.
Pouco depois, temos a cena tocante (que nos escapa nos quase 200 minutos de filme), do casal de velhos que não se separa, morrendo abraçados, numa cama. Ou da mãe que conta uma história e coloca seus dois filhos para dormir antes que a tormenta se consume.
Temos também o dono da companhia que acerta um relógio com cuidado, como se isso tivesse importância. Ou os músicos que tocam até o fim (por que não?). Depois vem o naufrágio propriamente dito. Aí é um pouco circo. Mas disso também vive o cinema.

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