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CRÍTICA
"L Word" é guiada pelo olhar masculino
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
OK, visibilidade é fundamental e, nesse sentido, não há
reparos a fazer em relação a "The
L Word". A série, exibida no horário das 23h aos domingos no
canal por assinatura Warner, flagra a subcultura lésbica norte-americana com alguma fidelidade, graça e, talvez mais importante, respeito. As questões da vida amorosa, os dramas da discriminação e do preconceito, as piadas, a linguagem, os personagens
típicos: está tudo lá.
A jovem escritora Jenny muda-se para Los Angeles com o namorado e fica amiga de suas vizinhas, um casal estável e bem-sucedido de lésbicas em torno dos
30 anos que quer ter filhos. A
partir da convivência com as vizinhas e seu círculo de amigas,
Jenny questiona suas próprias
escolhas amorosas e sexuais e
descobre o mundo do homossexualismo feminino.
Aliás, a enorme competência
da TV norte-americana para
capturar e estilizar o modo de vida de um grupo social fica patente em "The L Word". Embora os
rostos, corpos, cenários, roupas,
situações sejam evidentemente
mais vistosos e arrumados que
na chamada "vida real", a capacidade de representar o universo
das mulheres lésbicas urbanas,
jovens e de classe média alta de
forma verossímil é realmente
surpreendente.
Esse é um primeiro problema
da série, pois o que essa capacidade tem de competente, também tem de normatizadora, isto
é, enquanto representa, acaba
por construir um conjunto de regras a respeito de um estilo de vida. É assim em qualquer seriado
que se pretenda "realista" e que
se leve a sério, mas, no caso de
"The L Word", por conter matéria mais transgressora, a normatização soa mais acachapante.
O segundo problema é que a visibilidade tem um preço que
"The L Word" paga sem pestanejar: aparentemente em nome do
"realismo", o seriado é povoado
por cenas pornô-soft entre mulheres muito bonitas, o que, no
fundo, constitui um apelo erótico poderoso para os homens. Em
outras palavras, apesar de parecer o contrário, "The L Word" se
guia pelo olhar masculino.
Mesmo que se possa pensar
que há algo de ousado em mostrar cenas de intimidade entre
mulheres, não se deve ter a ilusão
de que a tolerância signifique exclusivamente um real avanço de
espaço nos meios de comunicação para as questões da sexualidade ou um ambiente de fato
mais democrático em relação às
minorias. Sim, a possibilidade de
admitir e incorporar a existência
do homossexualismo é produto
das lutas contra a discriminação,
mas seria ingenuidade imaginar
que é só por isso que hoje um seriado como "The L Word" esteja
na TV.
Na verdade, é quase que o contrário: apesar dos inegáveis avanços em direção aos direitos e à
não-discriminação, uma obra de
ficção como "The L Word" ainda
tem que acenar para o conservadorismo para poder ser vista.
biabramo.tv@uol.com.br
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