São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

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como nossos pais

Projetos que reúnem veteranos do tango argentino e da música tradicional cubana chegam em filme e CD

Divulgação
Concerto dos tangueiros do Café de los Maestros, em 2006, no teatro Colón de Buenos Aires

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nas sociedades antigas, as pessoas tinham os idosos como guia, por conta de sua experiência de vida. Hoje, somos regrados pela cultura dos jovens, que carecem de referências. É por isso que, nesse tempo de "High School Musical", são importantes projetos como o Buena Vista Social Club ou o Café de los Maestros. Eles carregam nossa memória musical."
As palavras são do produtor argentino Gustavo Santaolalla, 56, idealizador do Café, que reuniu tangueiros veteranos da região do Rio da Prata -de idades entre 70 e 90 anos- para a gravação de um álbum duplo e um filme. Sua primeira exibição no Brasil será no Festival de Cinema do Rio, na segunda, dia 6. Depois, deve passar na Mostra de São Paulo e entrar em circuito comercial no começo de 2009.
Trata-se de um documentário que reconstrói a busca por músicos remanescentes das quatro principais orquestras do tango em sua época de ouro, os anos 40 e 50 -as de Aníbal Troilo, Juan D'Arienzo, Carlos di Sarli e Osvaldo Pugliese.
Além de contar a história desses herdeiros, como Leopoldo Federico, Virginia Luque, Atilio Stampone e Lágrima Ríos, o filme registra um concerto desses músicos no tradicional teatro Colón, de Buenos Aires, em agosto de 2006.

Cuba
Enquanto isso, ao norte do continente, Cuba voltará a fazer ecoar as canções que deram a glória para uma geração de músicos também velhinhos reunida em 1996 pelo guitarrista norte-americano Ry Cooder.
O projeto Buena Vista Social Club, composto de discos -coletivos e individuais- e um documentário dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders (1999), estourou nos EUA, na Europa e no resto da América Latina nos anos subseqüentes.
Agora, no próximo dia 13 de outubro, chega ao mercado a gravação na íntegra do concerto realizado na noite de 1º de julho de 1998, no mítico Carnegie Hall, de Nova York, e que foi o clímax dessa empreitada.
Parte da apresentação está registrada no filme de Wenders, mas o material como um todo permanecia inédito.
Em entrevista à Folha, Ry Cooder, 61, falou da dificuldade de realizar o show por questões políticas. "Trazer aquela quantidade de músicos de um país com quem os EUA têm relações nada amistosas foi um pesadelo", conta o produtor.
Cooder foi multado pelo Trading with the Enemy Act, que proíbe relações comerciais de cidadãos americanos com Cuba. Ao fim, porém, foi salvo por intervenção do então presidente democrata Bill Clinton.
Desanimado com a atual administração dos EUA, Cooder acredita que uma idéia como a do Buena Vista jamais seria possível nos anos Bush e crê que a situação será a mesma caso os republicanos vençam as próximas eleições.
"Antes recebíamos visitas de artistas de todas as partes do mundo. Havia colaborações, intercâmbios. Hoje é negada a entrada de gente cujo país de origem sequer é conhecido pelas autoridades", diz.


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