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Pirataria é instrumento de divulgação do melody
Principal nome do melody, AR-15 grava faixas em casa e entrega a camelôs
Gênero tornou-se a música mais ouvida não apenas no Pará mas no Norte do país; artistas se preparam para excursionar pelo Sudeste
DO ENVIADO A BAGRE (PARÁ)
Primo do tecnobrega, o melody utiliza o mesmo sistema
de negócios de seu parente
mais velho. As bandas gravam
canções em estúdios caseiros.
Jogam as músicas nas mãos das
aparelhagens (sistemas de
som) de Belém. Os pirateiros
produzem coletâneas em CD
com os principais sucessos do
gênero e vendem pelas ruas.
O AR-15, principal nome do
melody, foi criado em 2006 por
Harrisson Lemos. Além de vocalista, ele produz todas as canções e escreve as letras. Em um
estúdio nos fundos de casa.
"Comecei a tocar bateria com
quatro anos. Meu pai é maestro", conta à Folha, em um barco em Bagre (PA), pouco antes
de se apresentar para 6.000
pessoas durante o 18º Festival
do Açaí, no mês passado.
"Com o AR-15, nunca tirei férias. Fazemos quatro shows
por semana, viajamos muito. E
de três em três meses temos
que tocar em Belém e lançar
música. Para ficar em evidência. Se não, esquecem a gente."
Já lançaram dois CDs e quatro DVDs oficiais. Perderam a
conta de quantos produtores
"não oficiais" existem nos camelôs de Belém. Mas eles não
se importam. "Se não fossem
os pirateiros, não teríamos
chegado ao Suriname", diz.
"Lançamos CDs para os fãs que
querem um encarte bonito,
com fotos. Porque ganhamos
dinheiro com os shows, com
porcentagem de bilheteria."
Dezenas de imagens de
shows do AR-15 estão espalhados pelo YouTube. São apresentações que contam com
uma parafernália tecnológica
(de som, luz, pirotecnia) impressionante. "Assisti a muitos
shows de artistas internacionais para nos inspirarmos."
O AR-15 é formado por 22
pessoas (incluindo equipe técnica). Foram pioneiros ao
substituir baterista por DJ.
"A banda AR-15 trabalha
muito bem as músicas. Faz músicas que falam de amor, com
letras românticas", explica José Roberto da Costa Ferreira,
que pilota o portal Brega Pop
(www.bregapop.com).
"Em Belém, não se consome
outro tipo de música. De cada
dez discos vendidos, nove são
de melody ou tecnobrega. É
muito difícil encontrar gente
ouvindo Chitãozinho e Xororó
ou Ivete Sangalo. O melody é a
trilha sonora da cidade", afirma
Vladimir Cunha, um dos diretores do documentário "Brega
S/A".
"É música fácil de fazer, bastam um microfone e computador. Um DJ de rádio recebe, em
média, 20 músicas novas de
melody por dia", diz Cunha.
Pará x Bahia
Se já estão estourados no
Norte do Brasil, os artistas de
melody, em particular o AR-15,
se preparam para excursionar
pelo Sudeste. Mas terão concorrência indesejada.
A banda baiana Dejavú estabeleceu-se em São Paulo há
poucos meses e já se apresentou em programas de TV e lotam shows na capital. Os músicos do Pará dizem que a banda
rouba canções paraenses.
"Em todo show divulgamos
que o melody é um ritmo do Pará", justifica Geandson Rios,
30, proprietário e compositor
do Dejavú. "Mas não é porque o
ritmo é do Pará que não pode
ter banda baiana de melody",
diz Rios, que já tem shows marcados em Angola e Portugal.
(THIAGO NEY)
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