São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Pirataria é instrumento de divulgação do melody

Principal nome do melody, AR-15 grava faixas em casa e entrega a camelôs

Gênero tornou-se a música mais ouvida não apenas no Pará mas no Norte do país; artistas se preparam para excursionar pelo Sudeste


DO ENVIADO A BAGRE (PARÁ)

Primo do tecnobrega, o melody utiliza o mesmo sistema de negócios de seu parente mais velho. As bandas gravam canções em estúdios caseiros. Jogam as músicas nas mãos das aparelhagens (sistemas de som) de Belém. Os pirateiros produzem coletâneas em CD com os principais sucessos do gênero e vendem pelas ruas.
O AR-15, principal nome do melody, foi criado em 2006 por Harrisson Lemos. Além de vocalista, ele produz todas as canções e escreve as letras. Em um estúdio nos fundos de casa.
"Comecei a tocar bateria com quatro anos. Meu pai é maestro", conta à Folha, em um barco em Bagre (PA), pouco antes de se apresentar para 6.000 pessoas durante o 18º Festival do Açaí, no mês passado.
"Com o AR-15, nunca tirei férias. Fazemos quatro shows por semana, viajamos muito. E de três em três meses temos que tocar em Belém e lançar música. Para ficar em evidência. Se não, esquecem a gente."
Já lançaram dois CDs e quatro DVDs oficiais. Perderam a conta de quantos produtores "não oficiais" existem nos camelôs de Belém. Mas eles não se importam. "Se não fossem os pirateiros, não teríamos chegado ao Suriname", diz. "Lançamos CDs para os fãs que querem um encarte bonito, com fotos. Porque ganhamos dinheiro com os shows, com porcentagem de bilheteria."
Dezenas de imagens de shows do AR-15 estão espalhados pelo YouTube. São apresentações que contam com uma parafernália tecnológica (de som, luz, pirotecnia) impressionante. "Assisti a muitos shows de artistas internacionais para nos inspirarmos."
O AR-15 é formado por 22 pessoas (incluindo equipe técnica). Foram pioneiros ao substituir baterista por DJ.
"A banda AR-15 trabalha muito bem as músicas. Faz músicas que falam de amor, com letras românticas", explica José Roberto da Costa Ferreira, que pilota o portal Brega Pop (www.bregapop.com).
"Em Belém, não se consome outro tipo de música. De cada dez discos vendidos, nove são de melody ou tecnobrega. É muito difícil encontrar gente ouvindo Chitãozinho e Xororó ou Ivete Sangalo. O melody é a trilha sonora da cidade", afirma Vladimir Cunha, um dos diretores do documentário "Brega S/A".
"É música fácil de fazer, bastam um microfone e computador. Um DJ de rádio recebe, em média, 20 músicas novas de melody por dia", diz Cunha.

Pará x Bahia
Se já estão estourados no Norte do Brasil, os artistas de melody, em particular o AR-15, se preparam para excursionar pelo Sudeste. Mas terão concorrência indesejada.
A banda baiana Dejavú estabeleceu-se em São Paulo há poucos meses e já se apresentou em programas de TV e lotam shows na capital. Os músicos do Pará dizem que a banda rouba canções paraenses.
"Em todo show divulgamos que o melody é um ritmo do Pará", justifica Geandson Rios, 30, proprietário e compositor do Dejavú. "Mas não é porque o ritmo é do Pará que não pode ter banda baiana de melody", diz Rios, que já tem shows marcados em Angola e Portugal.
(THIAGO NEY)


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