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PERSONALIDADE
Argentino naturalizado brasileiro, artista teve insuficiência respiratória, ontem, às 22h, em Salvador
Morre o pintor Carybé, aos 86, na Bahia
LUIZ FRANCISCO e
CHRISTIANNE GONZÁLEZ
da Agência Folha, em Salvador
O pintor Carybé, argentino naturalizado brasileiro, morreu às 22h
de ontem em Salvador (BA) de insuficiência respiratória e parada
cardíaca, segundo seu médico particular, Otávio Messede.
De acordo com o médico, o artista plástico argentino estava participando de uma reunião no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô
Afonjé, no Retiro (periferia de Salvador), quando sentiu-se mal. Ele
era adepto do candomblé.
Carybé foi levado para o hospital
Roberto Santo -centro médico
mais próximo do local onde se encontrava. Messede disse que Carybé já chegou morto ao hospital.
Radicado na Bahia há quase 50
anos, Carybé era ogã (espécie de
conselheiro) do terreiro Ilê Axé
Opô Afonjé. Messede, que acompanhou Carybé nos últimos nove
anos, disse que o artista plástico
sofria de problemas respiratórios.
"Ele estava muito debilitado e tinha enorme dificuldades para respirar."
O enterro do artista plástico deve
acontecer na manhã de hoje, no
cemitério Jardim da Saudade, em
Salvador. Até as 23h30 de ontem, o
corpo de Carybé permanecia no
hospital Roberto Santos, sendo velado por amigos e pela filha Solange Barnabó. Segundo informações
do diretores da Associação de Cultos Afros da Bahia, os terreiros de
candomblé de Salvador ficarão de
luto por uma semana.
Hector Júlio Páride Bernabó,
Carybé, nasceu em 9 de fevereiro
de 1911, em Lanús, subúrbio de
Buenos Aires, capital da Argentina. Fez os estudos primários em
Gênova e Roma, na Itália, e os secundários no Rio, onde esteve pela
primeira vez em 1919.
Após viajar durante anos pela
América do Sul -Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru-, produzindo e expondo, fixou-se na Bahia a
partir de 1950, ano em que participou pela primeira vez do Salão Bahiano de Belas Artes. Tornou-se
depois brasileiro naturalizado.
Durante os anos em que viveu na
Bahia, desenvolveu profunda relação com a cultura e os artistas do
Estado. As manifestações culturais
locais -como candomblé, capoeira e baianas- passaram a
marcar sua obra.
Como artista plástico, Carybé
experimentou ao longo de sua vida
uma grande variação em suas formas de trabalho. Escrevendo sobre
sua obra em 1966, ele registrava:
"Tenho 40 anos de ofício, durante
os quais estudei e trabalhei em
quase todas as técnicas conhecidas, da encáustica a fogo à cerâmica, do óleo às resinas sintéticas...".
O artista ilustrou obras de importantes escritores, como Jorge
Amado, Rubem Braga e Gabriel
Garcia Marquez. Realizou também
roteiros gráficos, direção artística,
cenografia e figurinos para teatro e
cinema.
Jorge Amado
Até 24h de ontem, o melhor amigo de Carybé, o escritor Jorge
Amado, não sabia de sua morte.
Segundo a mulher de Amado,
Zélia Gattai, Jorge só poderá saber
da morte do amigo hoje, na presença do cardiologista Jadelson
Andrade. "Carybé era nosso melhor amigo. Uma notícia repentina
sobre sua morte certamente abalaria muito a Jorge."
De acordo com Zélia Gattai,
Carybé estava preparando uma série de 18 telas. A escritora disse que
ele estava muito feliz por poder
terminar as obras.
"O médico de Carybé o havia
proibido de subir escadas, o que o
impossibilitava de ir até seu ateliê
no segundo andar da casa."
Os Amado estiveram reunidos
com o artista plástico no último
sábado para comemorar o dia de
Cosme e Damião. Carybé havia feito uma pintura com guache com as
figuras de Cosme e Damião com o
rosto de Jorge Amado e dele próprio. A pintura foi utilizada no
convite para o almoço em homenagem aos santos, oferecido por
Amado e Gattai.
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