São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIAS
"A CELA"
Caráter ambíguo dá ao filme título de horror fantástico

Divulgação
Jennifer Lopes encarna uma psicóloga de métodos pouco ortodoxos, que acaba usando para desvendar a psique de um serial killer


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

"A Cela" chega com metade do suspense, já que a tradução do título tira a dualidade inicial da história. Em inglês, "The Cell" tanto é "a cela" quanto "a célula", e quem assistir ao filme que estréia hoje verá que é a explicação da história. Pelo menos o que este crítico entendeu da história.
Dualidade que este texto tenta reproduzir já no título: "A Cela" não é só um "horror fantástico", como gênero de filme, como o thriller psicológico que é: é um fantástico horror. Horror de ruim mesmo. Tão ruim que chega a ser bom. Tão, mas tão ruim que chega a ser fantástico.
A cantora Jennifer Lopez, a maior bunda e a voz mais falsamente sensual do showbiz, faz uma psicóloga que despreza Freud, sofá e qualquer método comprovadamente efetivo. Em vez, aplica uma invenção de sua equipe de pesquisa, em que, vestida com um macacão de fibras e brilho nos lábios, pula a fase chata e tediosa que é a terapia e cai direto no subconsciente do paciente.
Até o dia em que o paciente é um sujeito perigoso, um serial killer que rapta mulheres, as coloca num aquário vazio imenso rodeado de câmeras por todos os lados, abre o chuveiro e assiste ao afogamento das vítimas. O ator escolhido (muito bem escolhido) é o diferentão Vincent D'Onofrio, que você lembra como o recruta balofo que se mata no banheiro de "Nascido para Matar".
A psicóloga cibernética entra nos sonhos do psicopata comatoso contra a vontade da equipe, que teme por sua segurança, mas apoiada por um agente do FBI (Vince Vaughn), ansioso por encontrar a filha de um político, que pode estar nas mãos dele.
O macacão merece mais um parágrafo: é engraçadíssimo ver como são boladas as roupas de fibras, em que psiquiatra e paciente se enfiam. A de Jennifer Lopez tem quadril 44, no mínimo. E os figurinos das pessoas no subconsciente alheio ganham dez em qualquer júri de escola de samba.
Jennifer Lopez chega a fazer até uma japonesa rápida, em certa ocasião. Em outra, aparece de Virgem Maria estilizada ("Não", explicou miss Lopez em entrevistas. "Não é a Virgem Maria. Eu sou religiosa e jamais brincaria com isso. É a Iracema (sic), uma deusa brasileira do mar!").
Adorando ou detestando "A Cela", você vai se divertir igualmente. Porque tudo o que importa é o estilo, que o estreante Tarsem Singh tem. Singh dirige comerciais à beça. Talvez por isso cada parte do subconsciente pareça uma bela e moderna propaganda de qualquer coisa. Falta só a voz aveludada e o logo no final. Faz sentido. Afinal, em que outra atividade humana as pessoas têm tanto estilo e nada (no máximo, uma Jennifer Lopez) na cabeça?


A Cela
The Cell
   Direção: Tarsem Singh Produção: EUA, 2000 Com: Jennifer Lopez, Vincent D'Onofrio, Vince Vaughn Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi 2, Paulista 1 e circuito




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