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CINEMA/ESTRÉIAS
"A CELA"
Caráter ambíguo dá ao filme título de horror fantástico
Divulgação
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Jennifer Lopes encarna uma psicóloga de métodos pouco ortodoxos, que acaba usando para desvendar a psique de um serial killer |
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"A Cela" chega com metade do suspense, já que a
tradução do título tira a dualidade
inicial da história. Em inglês, "The
Cell" tanto é "a cela" quanto "a célula", e quem assistir ao filme que
estréia hoje verá que é a explicação da história. Pelo menos o que
este crítico entendeu da história.
Dualidade que este texto tenta
reproduzir já no título: "A Cela"
não é só um "horror fantástico",
como gênero de filme, como o
thriller psicológico que é: é um
fantástico horror. Horror de ruim
mesmo. Tão ruim que chega a ser
bom. Tão, mas tão ruim que chega a ser fantástico.
A cantora Jennifer Lopez, a
maior bunda e a voz mais falsamente sensual do showbiz, faz
uma psicóloga que despreza
Freud, sofá e qualquer método
comprovadamente efetivo. Em
vez, aplica uma invenção de sua
equipe de pesquisa, em que, vestida com um macacão de fibras e
brilho nos lábios, pula a fase chata
e tediosa que é a terapia e cai direto no subconsciente do paciente.
Até o dia em que o paciente é
um sujeito perigoso, um serial killer que rapta mulheres, as coloca
num aquário vazio imenso rodeado de câmeras por todos os lados,
abre o chuveiro e assiste ao afogamento das vítimas. O ator escolhido (muito bem escolhido) é o diferentão Vincent D'Onofrio, que
você lembra como o recruta balofo que se mata no banheiro de
"Nascido para Matar".
A psicóloga cibernética entra
nos sonhos do psicopata comatoso contra a vontade da equipe,
que teme por sua segurança, mas
apoiada por um agente do FBI
(Vince Vaughn), ansioso por encontrar a filha de um político, que
pode estar nas mãos dele.
O macacão merece mais um parágrafo: é engraçadíssimo ver como são boladas as roupas de fibras, em que psiquiatra e paciente
se enfiam. A de Jennifer Lopez
tem quadril 44, no mínimo. E os
figurinos das pessoas no subconsciente alheio ganham dez em
qualquer júri de escola de samba.
Jennifer Lopez chega a fazer até
uma japonesa rápida, em certa
ocasião. Em outra, aparece de
Virgem Maria estilizada ("Não",
explicou miss Lopez em entrevistas. "Não é a Virgem Maria. Eu
sou religiosa e jamais brincaria
com isso. É a Iracema (sic), uma
deusa brasileira do mar!").
Adorando ou detestando "A
Cela", você vai se divertir igualmente. Porque tudo o que importa é o estilo, que o estreante Tarsem Singh tem. Singh dirige comerciais à beça. Talvez por isso
cada parte do subconsciente pareça uma bela e moderna propaganda de qualquer coisa. Falta só
a voz aveludada e o logo no final.
Faz sentido. Afinal, em que outra
atividade humana as pessoas têm
tanto estilo e nada (no máximo,
uma Jennifer Lopez) na cabeça?
A Cela
The Cell
Direção: Tarsem Singh
Produção: EUA, 2000
Com: Jennifer Lopez, Vincent D'Onofrio,
Vince Vaughn
Quando: a partir de hoje nos cines
Morumbi 2, Paulista 1 e circuito
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