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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Exposição na Tate Britain, em Londres, reúne finalistas do Prêmio Turner cujas obras abordam sempre temas polêmicos

Galeria de horrores

TOM LUBBOCK
DO "THE INDEPENDENT"

A imprensa continua aferrada à idéia fictícia de que o Prêmio Turner é polêmico. É claro que sempre foi este o acordo: vocês nos dão publicidade, nós lhes devolvemos polêmica. E, a cada ano, custe o que custar, alguma polêmica é identificada.
Mas a exposição das obras que concorrem ao Turner 2003 -a ser anunciado dia 7/12-, na Tate Britain, em Londres, é desanimadora. Três dos quatro candidatos finalistas são artistas de talento limitado. O quarto -os irmãos Jake e Dinos Chapman- apresenta um trabalho que está muito abaixo do que se poderia esperar.
O que chama a atenção nas obras dos Chapman, frequentemente tão criativas em suas blasfêmias e grosserias chulas, é a ausência de comicidade. O impulso cômico é evidente, mas o riso não chega a acontecer.
É o que ocorre em "Death" (Morte), uma escultura na qual dois bonecos sexuais infláveis transam sobre um colchão de água esculpido em bronze. Ou em "Insult to Injury" (insulto para machucar), um conjunto completo das gravuras de Goya da série "Desastre da Guerra", que os irmãos desfiguraram com o acréscimo de cabeças de palhaço e coelho que parecem ter sido tiradas de histórias em quadrinhos.
Outra das artistas finalistas é Anya Gallaccio, que se mantém fiel a seus temas de preservação versus perecimento. As obras tendem a utilizar materiais orgânicos. Assim, em "preserve "beauty'" (preserve "beleza'), tem-se duas peças de muro grandes e oblongas nas quais centenas de flores vermelhas estão pressionadas entre lâminas de vidro.
Se, no momento, as flores são vermelhas vivas, logo vão murchar e perder cor. Em outras palavras, vão passar de um estado de beleza (frescor) para outro (decadência). É simples -e não muito mais que isso.
Willie Doherty é um artista da Irlanda do Norte cujo trabalho geralmente se baseia na situação política de sua terra natal. As pessoas gostam de seu trabalho porque é sobre algo definido, não sobre temas abstratos. Suas peças, construídas com vídeo e fotografia, remetem a motivos ligados à repetição, frustração, impossibilidade. Pode-se pensar que sua análise política seja pessimista. Mas é igualmente possível que isso se deva à forma artística que utiliza.
Ele tem uma única peça exposta na Tate, uma projeção em duas telas chamada "Re-run" (Re-corrida). Em uma das telas, um homem atravessa correndo uma ponte, avançando em direção à câmera. Ele não pára de correr, mas nunca avança de fato. A outra tela, de frente para a primeira, mostra a sequência filmada pelas costas do homem, que se afasta.
E Grayson Perry trabalha com cerâmica -produz grandes vasos de cerâmica, coloridos e decorados. De perto, percebe-se que as imagens e palavras frequentemente são obscenas ou violentas e que às vezes dizem respeito a temas como o abuso de crianças.


Tradução Clara Allain


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