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MÚSICA
Baixista desembarca em SP para show no domingo, no Tim Festival, e quer experimentar canções do próximo álbum
Dave Holland expande "cores" com big band
GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Desde que foi chamado por Miles Davis para integrar a sua banda, em 1968, o baixista inglês Dave
Holland trocou a sua Inglaterra
natal pelos Estados Unidos. Em
Nova York, Holland mostrou-se
uma peça-chave na guinada que
Miles dá para o som elétrico no
fim dos anos 60 e grava dois dos
discos mais emblemáticos desse
período, "In a Silent Way" e "Bitches Brew", ambos de 1969.
Para muitos músicos, bastaria
ter participado desses dois discos
para ter o nome inscrito no panteão do jazz. Mas, para Holland,
esse era apenas o início de uma
das carreiras mais brilhantes do
jazz contemporâneo, seja como
instrumentista ou como compositor. Em 1970, o baixista deixou a
banda de Miles para buscar uma
sonoridade própria. Integrou
grupos seminais dos anos 70, como o quarteto Circle, ao lado de
Chick Corea (piano), Anthony
Braxton (sax) e Barry Altschul
(bateria), e o trio Gateway, com
John Ambercrombie (guitarra) e
Jack DeJohnette (bateria).
Um traço comum a unir essas
bandas e todo o seu trabalho como líder, que culmina no quinteto
formado com Robin Eubanks
(trombone), Steve Nelson (vibrafone), Chris Potter (sax) e Billy
Kilson (bateria), com quem tem
tocado desde o fim dos anos 90, é
uma constante busca de aprimoramento como músico e compositor, lição aprendida desde os
tempos em que tocava com Miles
Davis. "Aprendi isso com Miles,
mas não só com ele. Faz parte da
tradição do jazz buscar uma evolução constante, embora muitos
músicos não pensem assim", diz
Holland, 68, à Folha, por telefone,
de Nova York.
Nos últimos anos, Holland tem
sido apontado pela revista especializada em jazz "Downbeat" como o melhor baixista em atividade, e seu quinteto é considerado
um dos melhores grupos de hoje.
O baixista, contudo, desdenha esses títulos. "Não acho que eu seja
o melhor baixista do mundo. Eu
não penso em música como eu
penso em vegetais. Se você gosta
do jeito que eu toco, se eu sou o
seu baixista preferido, eu agradeço, mas eu não penso em mim como se estivesse numa competição
ou tentando ser o melhor. Tudo o
que eu quero é tentar contribuir
com algo para a música, algo que
signifique alguma coisa para
mim", diz. "O meu jeito de trabalhar é tentar criar mudanças. Não
uma mudança radical, de um mês
para o outro. Mas, em 30 anos,
considero uma boa maneira de
trabalhar o fato de eu tentar desenvolver a minha música em caminhos diferentes. Nos últimos
dois anos, um jeito que eu encontrei para me desenvolver criativamente foi no contexto da big
band", completa.
É justamente com a sua big
band que Holland desembarca
em São Paulo no fim desta semana para um show domingo, dia 7,
no Tim Festival. No show, o baixista irá tocar as composições de
"What Goes Around", o primeiro
disco com a big band, lançado em
2002, e algumas composições recentes. "Temos músicas novas
que estarão no disco que estamos
gravando, previsto para sair em
janeiro do próximo ano. Nós gostaríamos de mostrar parte dessa
música para o público de São Paulo, também para que eu tenha a
chance de ouvi-la ao vivo."
Para Holland, quem assistir ao
show do Tim Festival não verá
uma big band tradicional, que relê
o swing dos anos 30 e 40. "Não
acho que eu esteja olhando para o
passado ao montar uma big band.
Eu estou olhando para o presente
e para o que é relevante agora para mim, como um músico. Estou
tocando o que eu quero tocar.
Embora a banda use um contexto
de swing e talvez a mesma instrumentação das velhas big bands,
eu penso que a música que sai dela é música moderna. Eu não estou tocando uma música retrospectiva de jeito nenhum", justifica
o baixista.
A big band é formada por 13
músicos, incluindo Holland, e
funciona, como o próprio baixista
confirma, como uma forma estendida de seu quinteto. "A diferença entre o quinteto e a banda é
que num grupo pequeno você
tem uma grande flexibilidade e
espaço para intimidade. Na big
band você tem a possibilidade de
fazer composições mais arrojadas, criar mais cores com a orquestração e estender as suas
idéias, além, claro, do fato de que
na big band você tem um grande
pool de solistas. Essa é inclusive
uma das diferenças entre a minha
banda e uma big band normal.
Todo mundo faz solos, não apenas um ou dois músicos."
Outro aspecto que enriquece o
som da banda é a mistura entre
juventude e experiência dos músicos que vêm ao Brasil com Holland. "Nós temos músicos de
quase todas as décadas na banda.
O mais novo está na casa dos 20
anos, temos alguns na casa dos 30
e outros da casa dos 40 e 50. Tocar
com músicos mais jovens é uma
experiência boa para os dois porque acontece uma comunicação
muito importante. No músico jovem você vê muito idealismo e
uma energia muito grande, mas,
com sorte, num músico mais velho você encontra tudo isso mais
experiência", brinca.
DAVE HOLLAND BIG BAND. Show no
Tim Festival. Onde: Jockey Club de SP (av.
Lineu de Paula Machado, 1.263).
Quando: 7/11, às 20h. Quanto: R$ 120,
pelo site www.ticketmaster.com.br.
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