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Crítica
Como um mágico, diretor de "Amnésia" surpreende o público
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"O Grande Truque", o
novo filme do diretor Christopher
Nolan, que estréia no Brasil,
tem dois problemas.
O primeiro: se você dirigiu a
obra-prima "Amnésia" (2000),
como fazer algo que esteja pelo
menos perto da qualidade desse? O segundo: cíclica (e ciclotímica), Hollywood se autocanibaliza constantemente ao lançar filmes parecidos ao mesmo
tempo; dessa vez, "O Grande
Truque" chegou às telas dos Estados Unidos dias depois de "O
Ilusionista", de Neil Burger, de
temática similar.
Pois o espectador que também é cinéfilo e fã de Nolan vai
gostar de saber que ele se safa
bem das duas armadilhas, como um mágico experiente. Mágicos experientes, aliás, são o
tema de "O Grande Truque",
sobre a rivalidade de uma vida
inteira entre Robert Angier
(Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale).
O que começa como uma
busca de aperfeiçoamento de
truques por ambos, amparados
pelo veterano Cutter (Michael
Caine), vira uma obsessão pela
destruição do outro após uma
morte acidental que o crítico
não contará para não estragar a
surpresa. Nolan sendo Nolan, o
filme não é contado de maneira
linear, mas com vaivéns no roteiro que só ajudam no truque
final do diretor.
Tudo se passa na Inglaterra
da virada do século, com incursões breves pelos EUA, em que
descobertas tecnológicas -como o uso da eletricidade e os
novíssimos aparelhos que saem
das planilhas dos engenheiros- e formas inéditas de entretenimento, como o cinema,
são encarados pela população
em geral com o mesmo espanto
e desconfiança dados a um truque de mágica.
Sofisticação
É nesse ambiente que os
prestidigitadores -"The Prestige" é o título original- encontram terreno fértil para seus
truques, cada vez mais sofisticados e ousados. Como explica
Cutter já no início, a platéia
quer ser enganada. Para tanto,
faz um acordo com o artista no
começo do ato: suspenderá a
crença na realidade, desde que
seja surpreendida ao final...
É o que Nolan faz com o espectador, com maestria. Para
tanto, conta com um roteiro
bem amarrado, escrito a quatro
mãos com seu irmão, Jonathan, a partir do livro homônimo do excêntrico autor britânico Christopher Priest, que teve
a idéia para sua obra ao ler sobre um mágico chinês que realmente existiu (e é a chave para
o filme, fique atento).
Conta ainda com um elenco
impecável, em que repete a dupla de seu "Batman Begins"
(Christian Bale e Michael Caine) com acréscimos importantes, como Jackman e um adorável David Bowie no papel de inventor misterioso -Scarlett
Johansson, que parece estar
em todos os filmes de 2006,
destoa com sua performance
mediana.
Passados 20 minutos do longa, o próprio espectador se sentirá na platéia de um mágico,
tentando adivinhar qual afinal
é o truque. E não é essa a melhor definição de bom cinema?
O GRANDE TRUQUE
Direção: Christopher Nolan
Produção: EUA/Inglaterra, 2006
Com: Hugh Jackman, Christian Bale
Quando: em cartaz nos cines Jardim
Sul, Anália Franco, Iguatemi Playarte,
Metrô Santa Cruz e circuito
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