São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Crítica

Como um mágico, diretor de "Amnésia" surpreende o público

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

"O Grande Truque", o novo filme do diretor Christopher Nolan, que estréia no Brasil, tem dois problemas. O primeiro: se você dirigiu a obra-prima "Amnésia" (2000), como fazer algo que esteja pelo menos perto da qualidade desse? O segundo: cíclica (e ciclotímica), Hollywood se autocanibaliza constantemente ao lançar filmes parecidos ao mesmo tempo; dessa vez, "O Grande Truque" chegou às telas dos Estados Unidos dias depois de "O Ilusionista", de Neil Burger, de temática similar.
Pois o espectador que também é cinéfilo e fã de Nolan vai gostar de saber que ele se safa bem das duas armadilhas, como um mágico experiente. Mágicos experientes, aliás, são o tema de "O Grande Truque", sobre a rivalidade de uma vida inteira entre Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale).
O que começa como uma busca de aperfeiçoamento de truques por ambos, amparados pelo veterano Cutter (Michael Caine), vira uma obsessão pela destruição do outro após uma morte acidental que o crítico não contará para não estragar a surpresa. Nolan sendo Nolan, o filme não é contado de maneira linear, mas com vaivéns no roteiro que só ajudam no truque final do diretor.
Tudo se passa na Inglaterra da virada do século, com incursões breves pelos EUA, em que descobertas tecnológicas -como o uso da eletricidade e os novíssimos aparelhos que saem das planilhas dos engenheiros- e formas inéditas de entretenimento, como o cinema, são encarados pela população em geral com o mesmo espanto e desconfiança dados a um truque de mágica.

Sofisticação
É nesse ambiente que os prestidigitadores -"The Prestige" é o título original- encontram terreno fértil para seus truques, cada vez mais sofisticados e ousados. Como explica Cutter já no início, a platéia quer ser enganada. Para tanto, faz um acordo com o artista no começo do ato: suspenderá a crença na realidade, desde que seja surpreendida ao final...
É o que Nolan faz com o espectador, com maestria. Para tanto, conta com um roteiro bem amarrado, escrito a quatro mãos com seu irmão, Jonathan, a partir do livro homônimo do excêntrico autor britânico Christopher Priest, que teve a idéia para sua obra ao ler sobre um mágico chinês que realmente existiu (e é a chave para o filme, fique atento).
Conta ainda com um elenco impecável, em que repete a dupla de seu "Batman Begins" (Christian Bale e Michael Caine) com acréscimos importantes, como Jackman e um adorável David Bowie no papel de inventor misterioso -Scarlett Johansson, que parece estar em todos os filmes de 2006, destoa com sua performance mediana.
Passados 20 minutos do longa, o próprio espectador se sentirá na platéia de um mágico, tentando adivinhar qual afinal é o truque. E não é essa a melhor definição de bom cinema?


O GRANDE TRUQUE    
Direção: Christopher Nolan
Produção: EUA/Inglaterra, 2006
Com: Hugh Jackman, Christian Bale
Quando: em cartaz nos cines Jardim Sul, Anália Franco, Iguatemi Playarte, Metrô Santa Cruz e circuito



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