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Música - Crítica/"A Gente Ainda Não Sonhou"
Brown abusa da sintaxe em novo disco
Em "A Gente Ainda Não Sonhou", cantor baiano se perde em jogo de palavras; disco remete à calmaria dos Tribalistas
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até os 43 segundos da
primeira música, o novo álbum de Carlinhos
Brown soa como o de qualquer
banda contemporânea de indie
rock. Violão folk, vocal angustiado, versos (em inglês) sobre
isolamento... Até que chega o
refrão: "Blim blom, metrô/I say
goodbye hello". Sim, Carlinhos
Brown ainda é Carlinhos
Brown. As letras involuntariamente psicodélicas aparecem a
todo instante em "A Gente Ainda Não Sonhou", seu quinto
disco-solo. Mas essa sua irreverência em compor mais preocupado com a sonoridade da(s)
língua(s) do que com o sentido
não combina muito com a placidez musical do registro.
"A Gente Ainda Não Sonhou"
remete à calmaria dos Tribalistas. Nada a ver com seu último
disco de inéditas, o animado e
divertido "Carlinhos Brown É
Carlito Marrón" (2004), nem
com as interessantes pesquisas
sonoras de sua compilação
"Presents Candombless"
(2005). A última faixa, inclusive, é uma espécie de canção de
ninar chamada "Mande um
Email pra Mim", feita com Arnaldo Antunes e Marisa Monte.
Só que, diferentemente de
Marisa, Brown não é um bom
cantor. E essa deficiência ele
não consegue compensar tocando todos os instrumentos
em alguns números. "Te Amo
Família" é dessas em que
Brown faz de tudo. Mas até que
nela e em "Guaraná Café" chega a entusiasmar com suingue.
Uma pena o resto do disco
ser tão aborrecido, modorrento, arrastado. Se sabidamente
não vive um de seus melhores
momentos em termos comerciais, o baiano também não exibe a criatividade de outrora,
quando ousaram identificá-lo
como gênio da música popular
brasileira. O mais difícil é aturar os jogos de palavras que
mesclam a língua portuguesa
com a inglesa, uma obsessão
desse acrobata da sintaxe. A
soul "Everybody Gente" é
exemplo disso. E oito das 11 faixas trazem pelo menos uma
passagem em inglês.
O fato é que o músico não engana mais o grande público
nem a parcela da mídia que divulgava seu talento na década
passada sem qualquer freio. Já
ficou claro que ele funciona
muito melhor quando envolvido em projetos coletivos. Sozinho, é capaz de defender coisas
como a delirante "Garoa": "Se o
riso fosse mato pro milho crescer/Garoa, garoa, garoa, roa,
garoa/Sujeira no espelho creme dental e cabelo".
A GENTE AINDA NÃO SONHOU
Artista: Carlinhos Brown
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ruim
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