São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"DOGMA"
Secretária de Justiça defende censura à violência

da Reportagem Local


Mesmo não tendo assistido ao filme "Dogma", a secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, o defende: "Essa proibição que estão querendo, como no caso de "Je Vous Salue Marie", é muito ideológica, de interpretação".
Sussekind, entretanto, aproveitou o assunto para sugerir que a censura a filmes ultraviolentos, como "Clube da Luta", deveria ser cobrada pela sociedade.
Defensora de direitos da cidadania, especializada em criminologia e uma das criadoras do movimento pacifista Viva Rio, Sussekind, 48, foi nomeada há quatro meses, pelo ministro José Carlos Dias, como responsável por uma das oito secretarias do Ministério da Justiça. (IVAN FINOTTI)



Folha - O ministério pode proibir "Dogma"?
Elizabeth Sussekind -
Não pode. A possibilidade de o Ministério da Justiça proibir, no caso desse filme ou em qualquer outro, é zero.

Folha - O máximo que pode fazer é restringir para menores?
Sussekind -
É. Mas lembre que essa classificação que fazemos é dirigida à área de drogas, sexo e violência.
Eu penso, quem sabe, em um tipo de norma, de legislação, que não tivesse nenhum poder sobre idéias. Que jamais fosse ideológica. Que fosse mais sobre imagens e sobre as tramas.
Essa exibição de armamentos, essa propaganda do mais forte, do mais bem armado, da arma mais poderosa, eu acho isso nocivo. Digo sinceramente: eu acho isso tudo nocivo.

Folha - O que a senhora acha que deve ser feito? Sussekind - Não sou nem de longe uma burocrata e tenho perfeita consciência que é muito polêmico quando eu te digo que nós deveríamos apertar mais.
Por exemplo, uso de drogas não é proibido por lei. Você pode usar drogas; você não pode é traficar, portar ou propagandear drogas. Mas o que é conveniente? Que você se abstenha disso em seu próprio benefício.
Esse é o paralelo que eu poderia fazer sobre a questão dos enlatados. Eles são meramente comerciais. A cultura que eles transmitem é a cultura da violência.

Folha - Como seria possível apertar?
Sussekind -
Seria a sociedade cobrar dos órgãos públicos, e estes, junto com ela, cobrarem do legislativo que houvesse algum dispositivo legal que permitisse uma maior ingerência do poder público sobre o tipo de espetáculo disponível, especialmente para uma determinada faixa etária.

Folha - Falando curto e grosso, seria censura?
Sussekind -
Isso, falando curto e grosso, é censura. Não é censura política. É uma censura na área de costumes, de cultura. Que pode ser dirigida unicamente à questão das imagens, uma coisa mais moderna, que não tenha jamais a ver com censura de idéias.

Folha - A senhora proibiria "Clube da Luta"?
Sussekind -
Eu proibiria a exibição desse filme no Brasil. Mas aí é uma opinião minha como uma militante, como uma mulher, uma outra coisa.
No meu cargo como secretária, em primeiro lugar eu obrigaria os 18 anos. E acho até pouco. Já como pessoa, eu mandaria esse filme de volta, com um recado desaforado.


Texto Anterior: O que é que o "Dogma" tem?
Próximo Texto: Cortes começaram em 1908
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.