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No Rio, campanha contra filme vai de cartas a conversas
CRISTINA GRILLO
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Católicos do Rio estão se mobilizando para impedir a entrada
em circuito do filme "Dogma", de
Kevin Smith.
A campanha é liderada pelo cardeal arcebispo da cidade, d. Eugenio Sales, que, em conversas com
executivos do circuito Luiz Severiano Ribeiro, disse que não gostaria que o filme fosse exibido.
Cartas pedindo a proibição da
distribuição e exibição do filme
estão sendo enviadas aos gabinetes do vice-presidente da República, Marco Maciel -um católico
fervoroso.
De acordo com o assessor de
imprensa da Arquidiocese do Rio,
Adionel Carlos, d. Eugenio argumentou durante as conversas
com executivos do circuito Luiz
Severiano Ribeiro que sua preocupação em relação à exibição de
"Dogma" reside no caráter "contraditório" do trabalho.
O grupo exibidor é dirigido por
Luiz Severiano Ribeiro Neto, empresário católico, casado com
Glória Severiano Ribeiro. O grupo
tem no total 170 salas de exibição
espalhadas por 13 capitais do país.
Glória, filha do casal paulista
Romeu e Maricy Trussardi, é uma
das mais ativas colaboradoras da
Arquidiocese do Rio.
Ela foi uma das organizadoras
da visita do papa João Paulo 2º à
cidade no ano de 1997 e dos eventos religiosos da série "Deus É
Dez" -o mais recente deles foi
realizado há cerca de um mês na
praia de Ipanema.
Se depender da opinião de Glória, "Dogma" não chega às telas.
"Não assisti ao filme, mas me disseram que depõe contra a nossa
religião. Se for assim, o Luiz não
distribuirá o filme. Estamos em
época de comemorar os 2.000
anos de Cristo, de enaltecer. Devemos ser firmes contra qualquer
coisa que seja contrária à igreja",
disse à Folha.
Vice-presidente
Um abaixo-assinado, a ser encaminhado ao vice-presidente,
Marco Maciel, começa a ser preparado por católicos do Rio. Uma
das organizadoras, de acordo
com Glória Severiano Ribeiro, é
Vera Werneck, diretora do colégio Padre Antônio Vieira (no Humaitá, zona sul), um dos mais tradicionais da cidade.
Procurada pela Folha, Vera
Werneck disse não querer falar
sobre o abaixo-assinado, mas
confirmou sua intenção de tentar
impedir a exibição de "Dogma"
no Brasil.
"Sou contra qualquer divulgação disso. O filme é uma ofensa,
uma coisa de doente, uma agressão à religião. Há de se fazer tudo
para impedir sua exibição."
De acordo com Roberto Parreira, chefe de gabinete da vice-presidência da República, "algumas
dezenas de cartas" pedindo providências contra "Dogma" já chegaram ao gabinete do vice-presidente, Marco Maciel.
"Há muita gente reclamando,
mandando cartas e e-mails, alguns com várias assinaturas, mas
o assunto é de responsabilidade
do Ministério da Justiça", disse
Parreira.
A reação dos católicos cariocas
contra "Dogma" surpreendeu
Bruno Wainer, diretor-executivo
da Lumière, empresa responsável
pelo lançamento do filme no país.
"É a chamada volta das trevas
da vanguarda do atraso, às vésperas do ano 2000", disse Wainer.
O diretor-executivo da Lumière
queixa-se que os críticos do filme
não o assistiram. "Alguém da
igreja viu? É incorreta essa pressão sobre os exibidores. Estamos
perplexos. "Dogma" é uma comédia, e, mesmo que não fosse, o público tem o direito de escolher o
que quer ver."
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