São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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No Rio, campanha contra filme vai de cartas a conversas

CRISTINA GRILLO
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio


Católicos do Rio estão se mobilizando para impedir a entrada em circuito do filme "Dogma", de Kevin Smith.
A campanha é liderada pelo cardeal arcebispo da cidade, d. Eugenio Sales, que, em conversas com executivos do circuito Luiz Severiano Ribeiro, disse que não gostaria que o filme fosse exibido.
Cartas pedindo a proibição da distribuição e exibição do filme estão sendo enviadas aos gabinetes do vice-presidente da República, Marco Maciel -um católico fervoroso.
De acordo com o assessor de imprensa da Arquidiocese do Rio, Adionel Carlos, d. Eugenio argumentou durante as conversas com executivos do circuito Luiz Severiano Ribeiro que sua preocupação em relação à exibição de "Dogma" reside no caráter "contraditório" do trabalho.
O grupo exibidor é dirigido por Luiz Severiano Ribeiro Neto, empresário católico, casado com Glória Severiano Ribeiro. O grupo tem no total 170 salas de exibição espalhadas por 13 capitais do país.
Glória, filha do casal paulista Romeu e Maricy Trussardi, é uma das mais ativas colaboradoras da Arquidiocese do Rio.
Ela foi uma das organizadoras da visita do papa João Paulo 2º à cidade no ano de 1997 e dos eventos religiosos da série "Deus É Dez" -o mais recente deles foi realizado há cerca de um mês na praia de Ipanema.
Se depender da opinião de Glória, "Dogma" não chega às telas. "Não assisti ao filme, mas me disseram que depõe contra a nossa religião. Se for assim, o Luiz não distribuirá o filme. Estamos em época de comemorar os 2.000 anos de Cristo, de enaltecer. Devemos ser firmes contra qualquer coisa que seja contrária à igreja", disse à Folha.

Vice-presidente
Um abaixo-assinado, a ser encaminhado ao vice-presidente, Marco Maciel, começa a ser preparado por católicos do Rio. Uma das organizadoras, de acordo com Glória Severiano Ribeiro, é Vera Werneck, diretora do colégio Padre Antônio Vieira (no Humaitá, zona sul), um dos mais tradicionais da cidade.
Procurada pela Folha, Vera Werneck disse não querer falar sobre o abaixo-assinado, mas confirmou sua intenção de tentar impedir a exibição de "Dogma" no Brasil.
"Sou contra qualquer divulgação disso. O filme é uma ofensa, uma coisa de doente, uma agressão à religião. Há de se fazer tudo para impedir sua exibição."
De acordo com Roberto Parreira, chefe de gabinete da vice-presidência da República, "algumas dezenas de cartas" pedindo providências contra "Dogma" já chegaram ao gabinete do vice-presidente, Marco Maciel.
"Há muita gente reclamando, mandando cartas e e-mails, alguns com várias assinaturas, mas o assunto é de responsabilidade do Ministério da Justiça", disse Parreira.
A reação dos católicos cariocas contra "Dogma" surpreendeu Bruno Wainer, diretor-executivo da Lumière, empresa responsável pelo lançamento do filme no país.
"É a chamada volta das trevas da vanguarda do atraso, às vésperas do ano 2000", disse Wainer.
O diretor-executivo da Lumière queixa-se que os críticos do filme não o assistiram. "Alguém da igreja viu? É incorreta essa pressão sobre os exibidores. Estamos perplexos. "Dogma" é uma comédia, e, mesmo que não fosse, o público tem o direito de escolher o que quer ver."


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