MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

O Multishow apresenta hoje o fruto da estratégia que lançou "Reality", álbum de David Bowie, neste ano. Um show em Londres, transmitido ao vivo para salas de cinema em quatro continentes, e que ainda se torna um programa de auditório em que o público pode fazer perguntas ao camaleão.
Para um bom artista de rock, o maior adversário costuma ser seu passado. Seus grandes discos do começo de carreira, seu impacto nos público, suas fotos quando era mais jovem, tudo isso parece fazer com que seus trabalhos mais recentes sejam coisa de menor relevância. Envelhecer no rock é um desafio. Ou corre-se o risco de se repetir "ad aeternam" (e dá a sorte de ser os Rolling Stones) ou assume-se um processo de constante atualização, podendo, eventualmente, parecer ridículo.
O rock costuma ser ainda mais ingrato por ser feito menos de arte e mais por imagem. É um desfile de personalidades marcantes que conseguiram dar às suas épocas e gerações modelos a seguir e filosofias necessárias para quem está crescendo e enfrentando o amor, o mundo e a si mesmo.
Mas a maior parte dos roqueiros passa a ser vista como ultrapassada justamente no momento em que, em qualquer outro gênero ou arte, o artista estaria prestes a atingir a maturidade em seu trabalho; ou seja, quando poderia lançar suas melhores obras.
O próprio Bowie -o histórico Bowie!!!- já disse que, hoje, seus discos "dependem da divulgação boca a boca" para vender.
Ele fomenta então esse boca a boca por privilegiar seus fãs. A lógica é que, participando dessa experiência pioneira de um show ao vivo em cinemas do mundo todo, o fã teria prazer em contar como foi em primeira mão. Genial ele é desde "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars" (72).
Num mundo perfeito, Bowie não necessitaria dessa estratégia para ser ouvido. Mas, se ele ainda hoje é um ás do marketing, a sorte é mais do público do que dele.

Reality
     
Quando: hoje, às 16h, no Multishow.