São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2001

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Para Artur da Távola, o Estado não pode ser produtor cultural

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA SUCURSAL DO RIO

Há 14 anos vivendo entre Rio e Brasília, sofrendo do que classifica de "descolamento de rotina", o senador licenciado Artur da Távola (PSDB-RJ), 64, resolveu se tratar. Aceitou o convite para ser o secretário municipal de Culturas do Rio (assim, no plural), mesmo achando que vai "apanhar muito".
Távola já avisa qual será sua diretriz básica: "O poder público não é produtor de cultura".
Por "razões doutrinárias", sua primeira medida, antes mesmo de tomar posse, foi acrescentar um "s" ao nome da pasta. Jornalista e escritor, Távola diz que é preciso pluralizar e descentralizar a cultura. "Qualquer manifestação cultural é absolutamente respeitável", diz ele, que se considera um "eclético irremediável".
"Gosto desde funk até Brahms", exemplifica. "Não cabe à intelectualidade dizer se aquilo com o que concorda é que é cultura. Essa visão é quase fascista", diz ele, que condena o preconceito contra cultura popular.
"Só quem não gosta do Brasil confunde cultura popular e baixo nível. Vários setores da burguesia vivem para o que não é brasileiro. O país real não tem esse modelo. As elites são nostálgicas de uma cultura que não é a nossa."
A indicação do senador surpreendeu muita gente, pois seu nome vinha sendo cotado para o Ministério da Cultura, em substituição a Francisco Weffort. "Era mais a vontade de alguns do que a do presidente. Ele nunca falou comigo a respeito", desconversa.
Ele avalia que vai receber uma secretaria bem montada e que já faz um bom serviço de descentralização. "Há uma certa ênfase em teatro, artes plásticas e balé. É preciso equilibrar com música e, sobretudo, cultura popular."
Mesmo assim, terá obstáculos. O principal talvez seja o orçamento reduzido. Sua secretaria tem uma dotação de R$ 90 milhões. Tirando o custeio, terá R$ 14 milhões para investimento em 2001. "Suficiente ou não, vou ter de trabalhar com isso", diz, resignado.
Ele pretende dar prioridade a pequenos projetos que atinjam mais gente. Segundo ele, o dinheiro público não pode ser gasto "na fruição passiva e deliciosa das classes dominantes".
Ele afirma que a secretaria deve concentrar sua atuação em projetos que tenham valor social agregado a valor artístico. "Sou muito mais a favor de gastar dinheiro com um processo do que com eventos. A idéia do evento é muito boa para quem patrocina."
Mesmo com pouco mais de R$ 1 milhão por mês, ele pretende criar um museu do escritor, um museu do rádio, uma Sala Rio (nos moldes da Sala São Paulo) e o Instituto Pixinguinha (uma universidade informal de cultura e música popular, com estudos, cursos, pesquisas, publicações).
"O Rio fez o corta-jaca, o choro, o samba, o samba-canção, a bossa nova, participou da jovem guarda, do tropicalismo, criou nas periferias os bailes funk, os de charm. Tem uma sólida e diversificada produção de rap, de pagode, de partido alto, só para citar algumas manifestações musicais."
E, crendo que padrões culturais se formam na infância e adolescência, quer levar às salas de aulas projetos sobre cultura. "É preciso unir mais cultura e educação."


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