São Paulo, sexta-feira, 03 de janeiro de 2003

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CINEMA/ESTRÉIA

"SEPARAÇÕES"

Diretor diz que o segredo é inventar sobre a própria história

Domingos Oliveira filma dores de amores e mente

DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta Domingos Oliveira dedica "Separações" -seu décimo longa, que estréia hoje- "aos loucos, aos inocentes e a todos os que perambularam seus amores pelos baixo Gávea e Leblon". Enfim, àqueles que se reconhecem no cinema testemunhal feito pelo diretor.
"[O filme] É algo baseado na minha vida, mas também na vida dos meus amigos e na minha observação direta. A mentira é a alma do negócio. Contar a sua vida diretamente não tem graça nenhuma. A dramaturgia é que faz a história crescer", diz.
Além de roteirizar e dirigir "Separações", Oliveira interpreta o protagonista Cabral, um homem (de início) dividido entre o amor pela mulher e a nostalgia da liberdade que só encontra fora do casamento e, por fim, obstinado em refazer a relação rompida.
O papel de Glorinha, mulher de Cabral, coube a Priscilla Rozenbaum -que é casada com Oliveira também fora das telas. Pela interpretação, a atriz ganhou o troféu Kikito no último Festival de Gramado, derrotando as favoritas Etty Fraser ("Durval Discos") e Débora Falabella ("Dois Perdidos numa Noite Suja").
Antes de ser filmada, a história de "Separações" rendeu uma montagem teatral, com mesmo diretor e elenco principal. Na opinião de Oliveira, o grande trunfo do filme está no fato de seu roteiro ter sido experimentado no teatro.
"Os atores estavam prontos, com seus personagens na mão. Tendo isso você pensa só na linguagem [do cinema", o que é maravilhoso", afirma.

Brincadeira
Cinéfilo dos que colecionam caderninhos com sua cotação pessoal para as obras assistidas, Oliveira diz que filma "com muita facilidade, intuitivamente, sem grandes planejamentos". E, além de "contar a história", brinca de estar fazendo cinema, "como brincavam Truffaut e Godard".
A brincadeira é privilégio reservado ao diretor. "Os atores não podem fazer isso", diz, ao citar as diferentes exigências de interpretação para o teatro e o cinema.
"No cinema, basta o método de Stanislavski -o ator só tem que viver o papel intensamente. No teatro, não basta viver o papel com intensidade. O ator também tem de mostrar que está fazendo teatro."
Desde "Amores", seu longa anterior, de 1998, Oliveira trabalha com um elenco fixo. Além de Rozenbaum, Ricardo Kosovski é parceiro constante do diretor. Ambos já têm papéis reservados no próximo filme de Oliveira, "No Brilho da Gota de Sangue".
O fato de "Separações" ter em comum com "Amores" parte do elenco e o estilo de "comédia comovente" (definição de Oliveira) gerou comparações entre ambos e uma grande irritação no diretor.
No Festival de Gramado de 2002, em que o longa competiu, alguns críticos apontaram que Oliveira estaria se repetindo.
"Isso é uma coisa absolutamente subdesenvolvida. "Separações" é diferente de "Amores" no ritmo, na estética, na história. Tem apenas o mesmo estilo. No mundo inteiro, as pessoas passam a vida trabalhando dentro de um estilo e isso é considerado recomendável, coerente", afirma.
Oliveira esbraveja, mas aceita a provocação da crítica. Seu próximo filme será "um policial noir, um drama". Outro estilo, portanto. (SA)


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