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CINEMA/ESTRÉIA
"SEPARAÇÕES"
Diretor diz que o segredo é inventar sobre a própria história
Domingos Oliveira filma dores de amores e mente
DA REPORTAGEM LOCAL
O cineasta Domingos Oliveira
dedica "Separações" -seu décimo longa, que estréia hoje- "aos
loucos, aos inocentes e a todos os
que perambularam seus amores
pelos baixo Gávea e Leblon". Enfim, àqueles que se reconhecem
no cinema testemunhal feito pelo
diretor.
"[O filme] É algo baseado na
minha vida, mas também na vida
dos meus amigos e na minha observação direta. A mentira é a alma do negócio. Contar a sua vida
diretamente não tem graça nenhuma. A dramaturgia é que faz a
história crescer", diz.
Além de roteirizar e dirigir "Separações", Oliveira interpreta o
protagonista Cabral, um homem
(de início) dividido entre o amor
pela mulher e a nostalgia da liberdade que só encontra fora do casamento e, por fim, obstinado em
refazer a relação rompida.
O papel de Glorinha, mulher de
Cabral, coube a Priscilla Rozenbaum -que é casada com Oliveira também fora das telas. Pela interpretação, a atriz ganhou o troféu Kikito no último Festival de
Gramado, derrotando as favoritas
Etty Fraser ("Durval Discos") e
Débora Falabella ("Dois Perdidos
numa Noite Suja").
Antes de ser filmada, a história
de "Separações" rendeu uma
montagem teatral, com mesmo
diretor e elenco principal. Na opinião de Oliveira, o grande trunfo
do filme está no fato de seu roteiro
ter sido experimentado no teatro.
"Os atores estavam prontos,
com seus personagens na mão.
Tendo isso você pensa só na linguagem [do cinema", o que é maravilhoso", afirma.
Brincadeira
Cinéfilo dos que colecionam caderninhos com sua cotação pessoal para as obras assistidas, Oliveira diz que filma "com muita facilidade, intuitivamente, sem
grandes planejamentos". E, além
de "contar a história", brinca de
estar fazendo cinema, "como
brincavam Truffaut e Godard".
A brincadeira é privilégio reservado ao diretor. "Os atores não
podem fazer isso", diz, ao citar as
diferentes exigências de interpretação para o teatro e o cinema.
"No cinema, basta o método de
Stanislavski -o ator só tem que
viver o papel intensamente. No
teatro, não basta viver o papel
com intensidade. O ator também
tem de mostrar que está fazendo
teatro."
Desde "Amores", seu longa anterior, de 1998, Oliveira trabalha
com um elenco fixo. Além de Rozenbaum, Ricardo Kosovski é
parceiro constante do diretor.
Ambos já têm papéis reservados
no próximo filme de Oliveira, "No
Brilho da Gota de Sangue".
O fato de "Separações" ter em
comum com "Amores" parte do
elenco e o estilo de "comédia comovente" (definição de Oliveira)
gerou comparações entre ambos
e uma grande irritação no diretor.
No Festival de Gramado de
2002, em que o longa competiu,
alguns críticos apontaram que
Oliveira estaria se repetindo.
"Isso é uma coisa absolutamente subdesenvolvida. "Separações" é
diferente de "Amores" no ritmo,
na estética, na história. Tem apenas o mesmo estilo. No mundo
inteiro, as pessoas passam a vida
trabalhando dentro de um estilo e
isso é considerado recomendável,
coerente", afirma.
Oliveira esbraveja, mas aceita a
provocação da crítica. Seu próximo filme será "um policial noir,
um drama". Outro estilo, portanto.
(SA)
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