São Paulo, terça-feira, 03 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Livro registra Leskova nos bastidores

CRÍTICA DA FOLHA

"Uma Bailarina Solta no Mundo", de Suzana Braga, conta os bastidores da vida de Tatiana Leskova, uma das grandes figuras da dança brasileira.
Parisiense de nascimento, Leskova (1922) é filha de uma família aristocrática russa, que se exilou na França nos anos que seguiram à Revolução Bolchevique. Como ela diz: "Nasci sem nacionalidade". Em 1938 teve de optar pela nacionalidade francesa; viria a se naturalizar brasileira em 1952, mas até hoje reclama por ser vista como "gringa", a despeito de sua participação ativa na dança e na cultura do país. "Sou mais brasileira do que qualquer coisa. [...] Eu escolhi."
Aos 13 anos teve seu primeiro emprego, na Ópera Comique de Paris; no final de 1938 foi para o Balé de la Jeunesse. Atuou depois na Comédie Française e Ballet Russe de Monte-Carlo. Em 1939 iniciou uma série de temporadas com o Original Ballet Russe do Coronel de Basil. Uma das turnês da companhia a traria ao Brasil, em 1942. "Há 60 anos no Brasil, Tatiana Leskova viveu 58 deles em Copacabana", comenta Braga.
Por aqui dançou com o grupo que a trouxe, em shows do Copacabana Palace, e deu aulas; montou também seu grupo, Ballet Society (1948-50). Aos 27 anos, assumiu a direção do Balé do Theatro Municipal do Rio, em tempos difíceis. Remontou coreografias para várias companhias mundo afora, mas para os brasileiros será sempre a grande professora de muitos bailarinos, como os talentos mundiais (de gerações distintas) Marcia Haydée e Roberta Marquez.
O título do livro vem de um conto de Carlos Lacerda, uma obra de ficção, escrita em 1944, inspirada em um momento da vida de Leskova: as peripécias dela e de uma amiga, jovens bailarinas, para permanecer no Brasil quando vieram com o Original Ballet Russe.
Sem assumir maiores pretensões, eis um livro de importância para a dança do Brasil. Simplesmente (e nunca é simples) registrar alguma coisa da personalidade dessa bailarina, de sua vida e de sua arte, já significa muito, pelo tanto que Leskova significa.
O livro traz ainda algumas fotos dela, em diferentes períodos, além de uma introdução de Roberto Pereira e de um texto de orelha escrito (em 1995) por Guilherme Figueiredo. Pena os erros de digitação.
Braga -que foi diretora do Balé Guaíra, bailarina do Municipal do Rio e professora na academia de Leskova, entre outras atividades- opta pela descrição de fatos e histórias; conhecedora da história da dança, narra tudo com propriedade. Amealha também muitos depoimentos de amigos, alunos e artistas, além de preciosas sugestões da própria professora, sobre a prática e o ensino da dança. Se o livro não tem espaço para os balés, propriamente, procura algo que, afinal, vai muito além: o sentido da vida na dança, que se confunde aqui com o sentido da dança na vida.
(IB)


Uma Bailarina Solta no Mundo
   
Autora:
Suzana Braga
Editora: Lacerda Editores
Quanto: R$ 42 (410 págs.)


Texto Anterior: Biografia refaz passos da bailarina Angel Vianna
Próximo Texto: Artistas defendem Ferreira Gullar de críticas do Ministério da Cultura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.