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CRÍTICA
Livro registra Leskova nos bastidores
CRÍTICA DA FOLHA
"Uma Bailarina Solta no
Mundo", de Suzana Braga, conta os bastidores da vida de
Tatiana Leskova, uma das grandes figuras da dança brasileira.
Parisiense de nascimento, Leskova (1922) é filha de uma família
aristocrática russa, que se exilou
na França nos anos que seguiram
à Revolução Bolchevique. Como
ela diz: "Nasci sem nacionalidade". Em 1938 teve de optar pela
nacionalidade francesa; viria a se
naturalizar brasileira em 1952,
mas até hoje reclama por ser vista
como "gringa", a despeito de sua
participação ativa na dança e na
cultura do país. "Sou mais brasileira do que qualquer coisa. [...]
Eu escolhi."
Aos 13 anos teve seu primeiro
emprego, na Ópera Comique de
Paris; no final de 1938 foi para o
Balé de la Jeunesse. Atuou depois
na Comédie Française e Ballet
Russe de Monte-Carlo. Em 1939
iniciou uma série de temporadas
com o Original Ballet Russe do
Coronel de Basil. Uma das turnês
da companhia a traria ao Brasil,
em 1942. "Há 60 anos no Brasil,
Tatiana Leskova viveu 58 deles
em Copacabana", comenta Braga.
Por aqui dançou com o grupo
que a trouxe, em shows do Copacabana Palace, e deu aulas; montou também seu grupo, Ballet Society (1948-50). Aos 27 anos, assumiu a direção do Balé do Theatro
Municipal do Rio, em tempos difíceis. Remontou coreografias para várias companhias mundo afora, mas para os brasileiros será
sempre a grande professora de
muitos bailarinos, como os talentos mundiais (de gerações distintas) Marcia Haydée e Roberta
Marquez.
O título do livro vem de um
conto de Carlos Lacerda, uma
obra de ficção, escrita em 1944,
inspirada em um momento da vida de Leskova: as peripécias dela e
de uma amiga, jovens bailarinas,
para permanecer no Brasil quando vieram com o Original Ballet
Russe.
Sem assumir maiores pretensões, eis um livro de importância
para a dança do Brasil. Simplesmente (e nunca é simples) registrar alguma coisa da personalidade dessa bailarina, de sua vida e de
sua arte, já significa muito, pelo
tanto que Leskova significa.
O livro traz ainda algumas fotos
dela, em diferentes períodos, além
de uma introdução de Roberto
Pereira e de um texto de orelha escrito (em 1995) por Guilherme Figueiredo. Pena os erros de digitação.
Braga -que foi diretora do Balé
Guaíra, bailarina do Municipal do
Rio e professora na academia de
Leskova, entre outras atividades- opta pela descrição de fatos
e histórias; conhecedora da história da dança, narra tudo com propriedade. Amealha também muitos depoimentos de amigos, alunos e artistas, além de preciosas
sugestões da própria professora,
sobre a prática e o ensino da dança. Se o livro não tem espaço para
os balés, propriamente, procura
algo que, afinal, vai muito além: o
sentido da vida na dança, que se
confunde aqui com o sentido da
dança na vida.
(IB)
Uma Bailarina Solta no Mundo
Autora: Suzana Braga
Editora: Lacerda Editores
Quanto: R$ 42 (410 págs.)
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