ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos que têm o costume de ler as letras miúdas nos encartes, o nome de Apollo 9 é familiar. É dele a produção dos três primeiros CDs de Otto, além de ter trabalhado com Nação Zumbi, Mundo Livre, Planet Hemp, Trio Mocotó...
A novidade em seu currículo é o lançamento do primeiro disco solo, "Res Inexplicata Volans" (objeto voador não identificado), que saiu na Europa e no Japão pelo selo Ziriguiboom, o mesmo das cantoras-exportação Bebel Gilberto e Cibelle. No Brasil, Apollo 9 negocia o álbum e acredita que ele deve sair em dois meses.
Ao disco: é difícil, quase impossível, reduzir a um estilo "Res Inexplicata Volans", que mescla jazz, bossa, eletrônica, pop francês. Se houvesse uma categoria "cool" nas prateleiras das lojas de CD, seria ali que ele iria se encaixar. Lá fora, deve ser encontrado facilmente entre os lançamentos de "brazillian lounge music", possivelmente ao lado do produtor Suba, com quem é comparado pela imprensa gringa.
"Era um amigo que admiro, mas acho a comparação muito simplista", diz Apollo, 36. "Quando saiu o disco dele ["São Paulo Confessions'], o do Otto já tinha saído", lembra.
Para ajudar a confundir, entre as cantoras do CD, está uma das musas de Suba, Cibelle, que repercutiu no exterior com "Sereia". "A Cibelle encasquetou que eu tinha que fazer um disco", lembra Apollo. "Ela falou para a gravadora que eu já estava fazendo, e eu ainda nem tinha começado."
A bonita voz da moça abre o disco em "Mr. Right Now", jazz em que divide os vocais com Apollo. Outras duas cantoras brasileiras brilham no CD: Tita Lima, que interpreta a singela MPB "Traz um Alívio", e a jovem Céu, sussurrando na parceria de Apollo com Rita Lee, "Inexplicata".
Uma característica que perpassa todas as faixas é a influência do pop e da eletrônica francesa, resultado da mixagem de Yann Arnaud, que já remixou a dupla Air.
Assim, Seu Jorge faz um vocal à la Serge Gainsbourg e dá um ar meio cafajeste a "Ensaboar Você". Já o líder do Mundo Livre, Fred 04, aparece rimando ao lado da americana Holly em "War", música com levada de jazz e bossa.
Creditado por ser o dedo "moderno" da maioria dos brasileiros que produziu, Apollo surpreende e mostra uma eletrônica bastante contida. "Prefiro milhões de vezes chamar um músico para tocar do que samplear", explica. "Aprendi a produzir a partir da eletrônica, mas faço várias outras coisas."