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O Jaspion de Ribeirão
Professor de kung fu e seus alunos fazem filminhos de super-herói japonês no interior de São Paulo; sem patrocínio, 12º episódio pode ser o último do seriado "Insector Sun, o Guardião da Terra"
Fotos: Joel Silva/Folha Imagem
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O Insector Sun no conjunto habitacional de Ribeirão Preto onde vive seu alter ego Kri Lee
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO
Estamos no ano de 2009. A
Terra está sendo atacada pelas
terríveis forças de Shaken.
Mais especificamente, o Brasil
sofre com a invasão. E Shaken
escolheu Ribeirão Preto (310
km de São Paulo) como ponto
de ataque central na sua batalha contra os terráqueos.
O comércio fecha as portas,
os carros voam, os ribeirão-pretanos correm. E quando tudo parecia perdido, em um conjunto habitacional da zona norte da cidade, Kri Lee se transforma em Insector Sun, o Guardião da Terra.
Aos 30, Christiano Silva (ou
Kri Lee) já começa a se cansar
dessa história. É ele quem escreve, dirige e interpreta Insector Sun em 12 filminhos (o primeiro foi em 2000; o último está sendo editado). É ele também que não ganha nada por isso. "Estou ficando desanimado.
Gasto uns R$ 1.000 por episódio só com material", diz.
É ele quem edita as imagens
no computador de seu quarto,
faz fantasias, modela máscaras
e convence seus alunos da academia de kung fu a atuarem e
darem uma força no que for
preciso. De graça, é claro. "É
um trabalho voluntário, mas a
diversão é garantida."
Christiano ama os heróis japoneses desde criança. Aos 14,
já aprendia kung fu para imitar
Jaspion, Jiraiya, Spectreman e
companhia. Inspirado neles, o
rapaz criou o Insector Sun em
1999, inicialmente como um
mangá (história em quadrinhos
japonesa). O "insector" veio do
louva-a-deus, um estilo de
kung fu. Já o "sun" (sol, em inglês), se você não sabe, é porque
não conhece Ribeirão Preto,
onde até o asfalto derrete.
No ano seguinte, Christiano
fez o primeiro episódio do tokusatsu (seriado de super-herói japonês). A exibição do filminho de meia hora foi um
choque: "O pessoal começou a
rir de cenas que não eram para
ser engraçadas".
A partir daí, o diretor assumiu o lado comédia de Insector
Sun. Colocou monstros de nomes bizarros, como Caveronóide e Macaco Louco, e personagens engraçados como Long
Shin, que tem cabeça de bode, e
Gato Maru, que usa uma máscara original do gato Frajola.
Franguinho
Com o tempo, os efeitos especiais foram melhorando.
Raios de força e carros voando,
por exemplo, foram conseguidos com programas de computador. Saltos e cambalhotas foram aperfeiçoados com a compra de um colchão para que as
quedas não resultassem em
membros quebrados. Mas a bizarrice se manteve: de vez em
quando, aparecem uns personagens como o Menino Franguinho ou o Gafan, abreviatura
carinhosa para Gafanhoto.
Após os primeiros anos, a série entrou num ritmo de um
episódio por inverno. "Filmamos no meio do ano, que é menos quente para colocar as roupas e quando o céu de Ribeirão
está azulão, sem nuvens."
Os ribeirão-pretanos, aliás,
adoram quando a equipe de
"Insector Sun" sai às ruas para
filmar. "É uma festa, o pessoal
amontoa em cima. Dá até um
pouco de vergonha quando estou sem a máscara."
O bom humor é mesmo fundamental para Christiano
manter sua arte viva, já que ele
gasta quase todo seu tempo livre em função de Insector Sun.
No site do personagem, que está sendo reformulado (www.insectorsun.com), pode-se
comprar os episódios já lançados. Custam R$ 10 cada um.
Mas Christiano conta que
muito poucos são vendidos,
talvez 500 DVDs desde o início.
Apesar disso, é uma das séries
independentes mais respeitadas do Brasil: a equipe é sempre convidada para feiras e encontros de fãs de mangás em
todo o país.
"Se não conseguir patrocínio
ou apoio, este será o último
episódio. O nome, ainda não tenho certeza, será algo como
"Adeus, Insector Sun"."
Será nosso Jaspion de Ribeirão abandonado pela humanidade que sempre defendeu?
Shaken estará livre para a conquista impiedosa da Terra? Será este o inglório fim de Insector Sun? É o que veremos, se
houver um próximo capítulo.
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