São Paulo, terça, 3 de fevereiro de 1998

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CINEMA
Dan Aykroyd ressuscita "Blues Brothers"

DANIELA FALCÃO
de Nova York

Dan Aykroyd é um sobrevivente. Já teve de dar adeus a pelo menos três parceiros, que morreram precocemente -dois deles vítimas de overdose (John Belushi em 1982 e Chris Farley, em dezembro passado). O terceiro, John Candy, morreu após ter tido um ataque cardíaco em 1994.
Para Aykroyd, comediantes terminam se envolvendo com drogas com maior frequência do que outros atores porque têm mais dificuldades em lidar com as fases "down" da vida.
"Quando o comediante está no palco ele recebe uma descarga de adrenalina enorme, fica alto, eufórico. Outros atores não tem tantos momentos de euforia quanto os comediantes. Por isso, conseguem lidar melhor com a depressão do que a gente. É muito mais difícil se manter estável com tantos altos e baixos", disse.
Aos 47 anos, Aykroyd diz que conseguiu sobreviver porque odeia drogas químicas, mas acha que fuma demais.
De todas as mortes, a mais sofrida foi a de John Belushi, que foi co-autor da primeira versão de "Blues Brothers" ("Os Irmãos Cara-de-Pau"), onde interpretava Jack, o parceiro inseparável de Elwood Blues (Aykroyd).
Belushi e Aykroyd se conheceram em 1975, quando ambos atuaram na série de TV "Saturday Night Live", um dos programas humorísticos de maior sucesso da história da TV norte-americana.
Belushi se tornou parceiro e melhor amigo de Aykroyd. Aykroyd presenciou o envolvimento, a dependência e a morte de Belushi por overdose de cocaína.
Aykroyd conta que precisou de mais de 10 anos para conseguir retomar os projetos que foram interrompidos com a morte de Belushi, como a sequência de "Blues Brothers", e que até hoje sente raiva do amigo. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Aykroyd concedeu à Folha.

Folha - Por que você esperou 18 anos para fazer a sequência de "Blues Brothers"?
Dan Aykroyd -
Quando lançamos o primeiro, eu já estava com 300 páginas da sequência pronta, se chamaria "Blues Brothers, o Retorno". Mas aí John (Belushi) morreu e tudo perdeu sentido.
Folha - Em "Blues Brothers 2000" seu personagem tem três parceiros em vez de um...
Aykroyd -
Não dá para substituir John. Ninguém poderia ocupar o lugar dele. Dez pessoas não dariam conta do recado. Não havia sentido Elwood ter um novo parceiro. Procurei escrever o novo filme de maneira diferente. Os outros Blues Brothers não são parceiros, são sócios.
Folha - Como você se sente em relação a morte de John Belushi?
Aykroyd -
Eu penso nele o tempo todo, xingo por ele não estar aqui para ver tudo o que poderíamos ter feito juntos. Mantenho meus amigos que morreram muito perto de mim, principalmente os que sucumbiram ao poder das pílulas. Queria ter o poder de Fênix para trazê-los de volta.
Folha - Você acha que os comediantes têm um relacionamento mais complicado com drogas por causa da pressão de ter de ser sempre engraçados?
Aykroyd -
Acho que o problema é a dificuldade em manter a estabilidade. Quando o comediante está no palco ele recebe uma descarga de adrenalina enorme, fica alto, eufórico. Mas se os críticos detonam seu novo filme ou se ele é preso porque se meteu em alguma confusão, a depressão se torna insuportável e ele termina tendo de se drogar para conseguir ficar alto de novo. Outros atores não tem tantos momentos de euforia quanto os comediantes. Por isso conseguem lidar melhor com a depressão do que a gente. É muito mais difícil se manter estável com tantos altos e baixos.
Folha - Você percebeu que o John Belushi estava passando por uma crise?
Aykroyd -
Claro, ele era meu melhor amigo. Várias vezes me pediu de joelhos, chorando, implorando pra que eu ajudasse ele a superar o vício. Perdi a conta de quantas vezes joguei papelotes de cocaína na privada. Impedi que ele saísse com traficantes, escondi ele das pessoas que usavam drogas.
No último verão antes de ele morrer, eu havia virado um policial. Mudamos para Martha's Vineyard (balneário chique em Massachussets), onde não havia pó nem pílulas. Expulsei da nossa casa amigos dele que tentavam trazer alguma coisa. Mas no fim ele sucumbiu nas mãos de uma mulher que errou na dosagem e terminou matando John.



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