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Argerich impressiona pelo virtuosismo
especial para a Folha
O escritor argentino Jorge Luis
Borges (1899-1986) costumava dizer que, de todos os presentes que
recebera ao longo da vida, o mais
precioso era um quadro prometido por um amigo, que acabou
morrendo antes de pintá-lo. Se o
quadro estivesse na parede, diz
Borges, com o tempo acabaria
sendo apenas mais um entre outros. Imaginado, lembrado na sua
ausência, continuaria precioso.
Seguindo o mesmo raciocínio,
pode-se dizer que, entre os concertos dos últimos anos em São
Paulo, talvez o mais memorável
tenha sido o da pianista argentina
Martha Argerich, cancelado por
motivo de doença. Sem previsão
de tocar no Brasil, Argerich, 56, é,
por consenso, a maior pianista em
atividade -embora há anos tenha
abandonado os recitais solo para
se dedicar só à música de câmara e
aos concertos com orquestra.
Um consolo relativo para os que
não se consolam com essas duas
frustrações -o concerto que não
aconteceu e o fim prematuro da
carreira de solista- vem na forma
de 11 CDs, em caixa da gravadora
Deutsche Grammophon.
Aqui estão desde as antológicas
interpretações da "Sonata nş 2",
de Chopin, de 1961, e dos "Prelúdios op. 28", até a "Sonata em Si
Menor", de Liszt, a "Kreisleriana", de Schumann, e as "Valsas
Nobres e Sentimentais", de Ravel.
Além do repertório solo, há uma
variedade de peças de câmara e
concertos: a "Sonata para Dois
Pianos e Percussão", de Béla Bartók (que ela toca na companhia de
Nelson Freire), os dois primeiros
"Concertos para Piano e Orquestra", de Beethoven (regidos por
Giuseppe Sinopoli), o "nş 3", de
Prokofiev (regido por Claudio Abbado), e o de Schumann (regido
por Rostropovich).
Nenhuma gravação é inédita; todas são colecionáveis e formam
acervo impressionante de música,
reinventada por Argerich com vitalidade e virtuosismo, duas qualidades que não são só questão de
dedos, mas de imaginação.
(AN)
Discos: Martha Argerich Collection (11
CDs)
Pianista: Martha Argerich
Lançamento: Deutsche Grammmophon
Quanto: R$ 18, cada CD, em média
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