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Vídeo sobre Helfgott é simpático e discreto
especial para a Folha
Quem gosta muito de música geralmente foge de filmes em que ela
é personagem. Com raras exceções, a música no cinema é um
prato cheio para o sentimentalismo.
Mesmo produções mais especializadas, como "32 Curtas sobre
Glenn Gould" e a série de seis filmes com o violoncelista Yo Yo
Ma, exibidos recentemente na Rede Cultura, não escapam de ambições grandiosas e consequências
morosas que fazem do gênero
"filmes de música" uma classe
especial de kitsch.
O filme australiano "Shine" é
uma inesperada exceção a essa regra. Tinha tudo para não ser: a história do pianista David Helfgott,
menino prodígio atormentado
por um pai dominador, que acaba
sofrendo de doença mental depois
de um início retumbante de carreira e que retorna aos palcos 25
anos mais tarde salvo pelo amor
de uma astróloga, parecia feita sob
medida para um melodrama.
A surpresa é ver nesse filme, que
não é, a rigor, sobre música, um
dos tratamentos mais decentes
que o cinema popular já dedicou à
arte.
Na esteira do sucesso internacional do filme, David Helfgott voltou a se apresentar nas salas mais
prestigiosas da Europa e dos Estados Unidos. A crítica foi unânime
em condenar os concertos.
Seria desumano, por outro lado,
criticar o esforço pessoal de Helfgott -suficiente, ao que parece,
para comover platéias, mais interessadas nele do que propriamente na música.
Helfgott é mais do que uma curiosidade musical, mas menos do
que um grande pianista: a música
parece mais um veículo para ele
do que ele para a música. E isso é
ou não é música?
Produzido para a TV inglesa,
"David Helfgott: A Musical Journey" constitui outra boa surpresa
do caso Helfgott.
Um vídeo neutro, na avaliação
do pianista, fugindo à tentação de
transformá-lo em gênio incoerente das emoções, mas escapando
também de uma avaliação só técnica de um músico que não é só
músico.
Apresentado por Melvyn Bragg,
o vídeo reúne entrevistas com ele,
sua mulher e vários críticos e professores. Acompanha Helfgott em
turnê pela Inglaterra e compila
material de arquivo.
Na segunda parte, independente
dos primeiros 45 minutos, o programa registra um concerto do
pianista, sem nenhuma interrupção nem comentário.
Deixa assim que cada espectador
decida por si mesmo se quer ou
não escutar David Helfgott.
Discreto, simpático e bem editado, o vídeo, como tudo que diz
respeito a esse homem, não é só
sobre a música, mas é sobre a música também.
As lições de Helfgott nos permitem deixar de ouvi-lo, mas agradecidos pelo que ele ensinou
-não só sobre a música, mas sobre a música também.
(AN)
Vídeo: David Helfgott: A Musical Journey
Direção: Leo Burley
Lançamento: Warner/NVC Arts
Quanto: R$ 25, em média
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