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O livro é bem melhor
THALES DE MENEZES
especial para a Folha
Stephen King foi
o primeiro escritor
a ter uma relação
permanente com o
cinema. Ainda no
início dos anos 80,
depois do sucesso das adaptações
na tela de "Carrie", "O Iluminado" e "Christine, O Carro Assassino", cada livro dele já era escrito
com a garantia de roteirização.
Essa classe especial de escritor
tem outros representantes. Alguns que estão em baixa, como
Tom Clancy. Mas há dois que formam, ao lado de King, o triunvirato dos escritores das telas: o
mestre do tribunais, John Grisham, e o rei do best seller hi-tech,
Michael Crichton.
No entanto, King é o mais "literário" da turma. Grisham e Crichton fazem livros que já parecem
roteiros. A edição das sequências
já vem com o corte exato para a
montagem cinematográfica.
Eles estão mais preocupados
com o resultado na tela. Muito
justo. Uma obra de um deles rende US$ 5 milhões nas livrarias,
mas a roteirização garante ao autor o dobro dessa quantia.
King ainda é um escritor "puro". Um dos grandes contadores
de histórias do século 20. No início, um mestre na literatura de
horror. Mas foi explorando outros gêneros com igual talento.
Seus ótimos livros rendem bons
ou maus filmes, já que ele não facilita as coisas para os cineastas.
"À Espera de um Milagre" pertence ao filão sério de sua obra,
que é como ele chama seus livros
que não podem ser facilmente encaixados na classificação "terror".
No entanto o livro traz passagens
de deixar o leitor de cabelo em pé.
Editado nos anos 90 como um
folhetim em seis partes, com o título "O Corredor da Morte", o livro reúne as memórias do guarda
penitenciário Paul Edgecombe
durante os anos 30. Sua convivência com homens aguardando execução rende experiências que vão
de retratos implacáveis do absurdo da vida a descidas sem anestesia aos limites cada vez mais elásticos da violência.
Entre elas, momentos de mistério e fábula, como a história de
John Coffey, um gigante negro
condenado pelo assassinato de
duas gêmeas e, desconfia Edgecombe, um homem com um dom
especial para ajudar as pessoas.
É fácil de entender a razão do filme centrar fogo na relação de Edgecombe e Coffey. Trata-se da
parte mais pop do livro. No entanto, muita coisa foi desprezada
na adaptação cinematográfica.
Muita coisa boa.
O talento de Stephen King faz a
leitura de "À Espera de um Milagre" ser um passatempo prazeroso até para quem viu o filme. É
possível dizer que a obra na tela
serve apenas como aperitivo para
um livro espetacular, cheio de
personagens marcantes criados
por alguém que não vulgariza a
expressão "gênio".
Avaliação:
Livro: À Espera de um Milagre
Autor: Stephen King
Tradutor: M.H.C. Côrtes
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 22 (232 págs.)
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