São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2000


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O livro é bem melhor

THALES DE MENEZES
especial para a Folha


Stephen King foi o primeiro escritor a ter uma relação permanente com o cinema. Ainda no início dos anos 80, depois do sucesso das adaptações na tela de "Carrie", "O Iluminado" e "Christine, O Carro Assassino", cada livro dele já era escrito com a garantia de roteirização.
Essa classe especial de escritor tem outros representantes. Alguns que estão em baixa, como Tom Clancy. Mas há dois que formam, ao lado de King, o triunvirato dos escritores das telas: o mestre do tribunais, John Grisham, e o rei do best seller hi-tech, Michael Crichton.
No entanto, King é o mais "literário" da turma. Grisham e Crichton fazem livros que já parecem roteiros. A edição das sequências já vem com o corte exato para a montagem cinematográfica.
Eles estão mais preocupados com o resultado na tela. Muito justo. Uma obra de um deles rende US$ 5 milhões nas livrarias, mas a roteirização garante ao autor o dobro dessa quantia.
King ainda é um escritor "puro". Um dos grandes contadores de histórias do século 20. No início, um mestre na literatura de horror. Mas foi explorando outros gêneros com igual talento. Seus ótimos livros rendem bons ou maus filmes, já que ele não facilita as coisas para os cineastas.
"À Espera de um Milagre" pertence ao filão sério de sua obra, que é como ele chama seus livros que não podem ser facilmente encaixados na classificação "terror". No entanto o livro traz passagens de deixar o leitor de cabelo em pé.
Editado nos anos 90 como um folhetim em seis partes, com o título "O Corredor da Morte", o livro reúne as memórias do guarda penitenciário Paul Edgecombe durante os anos 30. Sua convivência com homens aguardando execução rende experiências que vão de retratos implacáveis do absurdo da vida a descidas sem anestesia aos limites cada vez mais elásticos da violência.
Entre elas, momentos de mistério e fábula, como a história de John Coffey, um gigante negro condenado pelo assassinato de duas gêmeas e, desconfia Edgecombe, um homem com um dom especial para ajudar as pessoas.
É fácil de entender a razão do filme centrar fogo na relação de Edgecombe e Coffey. Trata-se da parte mais pop do livro. No entanto, muita coisa foi desprezada na adaptação cinematográfica. Muita coisa boa.
O talento de Stephen King faz a leitura de "À Espera de um Milagre" ser um passatempo prazeroso até para quem viu o filme. É possível dizer que a obra na tela serve apenas como aperitivo para um livro espetacular, cheio de personagens marcantes criados por alguém que não vulgariza a expressão "gênio".


Avaliação:     


Livro: À Espera de um Milagre Autor: Stephen King Tradutor: M.H.C. Côrtes Editora: Objetiva Quanto: R$ 22 (232 págs.)

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