São Paulo, sábado, 03 de março de 2001

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FAMÍLIA GUIMARAENS

"É um dos sonetos mais bonitos do simbolismo brasileiro", diz Alexei Bueno

"Poesia Completa" traz obra inédita

DO ENVIADO AO RIO

"É um dos sonetos mais bonitos do simbolismo brasileiro e talvez da nossa poesia." A frase comenta o poema publicado aqui ao lado. O dono dessa voz grave, é bom que se esclareça, não está em nenhum dos galhos da frondosa árvore da família Guimaraens.
Quem fala é o poeta e ensaísta Alexei Bueno, que, além de trabalhar na reunião da "Poesia Completa" de Alphonsus de Guimaraens, que a Nova Aguilar está lançando, foi um dos artífices da publicação pela mesma editora das "Obras Completas" de Cruz e Sousa, o outro grande simbolista.
Bueno não poupa nenhum elogio a Guimaraens ("É o maior poeta religioso da poesia brasileira") e atribui o certo desconhecimento que reveste hoje a obra dele à dificuldade de sua poética. "Simbolismo nunca deu popularidade", comenta.
Alphonsus de Guimaraens Filho não é um simbolista (foi classificado por Alfredo Bosi como um poeta situado entre a primeira geração modernista e a chamada Geração de 45), mas está em sintonia com Bueno: "Bandeira me disse uma vez: "Poesia não dá dinheiro, mas ajuda o poeta a ganhar".".
Alphonsus concorda. "Fui assessor de Juscelino Kubitschek por oito anos e sei que ele não me chamou pelos meus belos olhos, mas pelo meu texto", brinca.
Ultimamente, Guimaraens Filho andava meio ressabiado com a poesia. Mas descobriu que não escaparia dela e lançou recentemente seu 18º livro (o primeiro deles, "Lume de Estrelas", virou até nome de rua no Rio). "Não se consegue fugir. Isso é uma perseguição. Outro dia uma amiga me perguntou se eu era feliz por ser poeta. Não me cabe ser feliz ou não, devo obedecer ao decreto."
Entre seus orgulhos, está, além do casamento de 58 anos com Hymirene, frisa ele, o fato de que tem três netos que também seguem o mandamento: "São poetas de verdade", fala com a boca cheia. São eles Augusto, Domingos e Francisco, cada um deles filho de um de seus três filhos. O trio de aspirantes a poetas inclusive já tornou pública parte de sua jovem produção.
"Eles três já publicaram na revista "Poesia Paratodos", aqui do Rio", conta Afonso Henriques Neto, pai de Francisco, 23, que nasceu dois anos depois de sua obra mais famosa, "O Misterioso Ladrão de Tenerife", marco da literatura marginal reeditado no ano passado pela 7 Letras.
Henriques diz que decidiu não usar o Alphonsus que seu pai e avô adotaram como pseudônimo para "evitar confusão".
Por outros motivos, de concisão, outra integrante da família Guimaraens também deixou para trás esse sobrenome (no seu caso grafado ainda como Guimarães).
É a escritora e colunista da Folha Nina Horta, sobrinha-neta de Alphonsus de Guimaraens (leia texto abaixo).
A poesia de Horta seguiu um galho diferente da maioria dos parentes. A qualidade poética de seu escrito está hoje voltado principalmente para a crítica gastronômica. (CEM)




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