São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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ACADEMIA

Poeta começa na presidência com inauguração de biblioteca-modelo adiante e início de dicionário da instituição

Ivan Junqueira assume ABL "musculosa"

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O poeta Ivan Junqueira, novo presidente da Academia Brasileira de Letras, em sua casa, no Rio


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A academia mais famosa do país inaugura amanhã um novo exercício. E cheia de músculos.
Com a disputada eleição para sua cadeira 19, o imortal Ivan Junqueira inicia um mandato de presidente da Academia Brasileira de Letras que deve consolidar as fisiculturas recentes da instituição.
Aos 69 anos, o poeta e ensaísta assume a presidência da casa criada em 1896 com um cronograma de novidades nada desprezível.
Até o final do ano, a ABL deve inaugurar a biblioteca mais moderna do país, transformar um espaço pouco usado em galeria de arte contemporânea e dar os contornos iniciais do Dicionário da Academia Brasileira de Letras, projeto dos tempos de Machado de Assis, seu primeiro presidente.
Junqueira assumiu a direção falando que não iria "reinventar a roda" e não hesita em classificar sua gestão como de "absoluta continuidade". Mas caberá ao titular da cadeira 37 cortar as fitas.
Eleito para a instituição em 2000, Junqueira vinha participando desde então das cúpulas políticas do Petit Trianon, nome da sede da ABL -foi diretor-tesoureiro da gestão de Tarcísio Padilha e depois secretário geral do mandato de Alberto da Costa e Silva, presidente anterior.
A prioridade desses presidentes, a construção da biblioteca Rodrigo Garcia, deverá ficar visível no final de 2004. Com 1.500 metros quadrados e acervo de 50 mil volumes, o espaço terá recursos "futuristas" como uma sala de videoconferências com uma câmera que se movimenta em direção a quem está falando.
Antes disso, a ABL deverá ter uma de suas instalações apresentada ao público com novos contornos. A galeria Manuel Bandeira, criada para exposições acadêmicas, deverá passar a receber artistas contemporâneos.
"O número de galerias no Rio de Janeiro caiu muito. Precisamos de espaços para os pintores e escultores que aí estão", diz Junqueira, que promete contratar um galerista em abril.
Das outras mudanças recentes da ABL, uma não está relacionada a concreto, tijolo, vidro, mestres de obras. A instituição pôs em marcha no mês passado a Cátedra Machado de Assis, parceria com a Universidade de Oxford que vai levar um acadêmico por ano ao Reino Unido para falar sobre literatura brasileira. Sérgio Paulo Rouanet já embarcou para Londres para abrir o programa.
Um terceiro veio de atuação de Junqueira na Academia será no ramo "editorial". A instituição já vinha intensificando nos últimos anos a publicação de livros, alguns em co-edição.
Além de fortalecer essa política, o novo presidente quer dar impulso ao Dicionário da ABL, que a Comissão de Lexicografia de lá -que no ano passado concluiu a nova versão do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"- começa a desenvolver.
Esta "inauguração" não caberá a Junqueira, que estima que o trabalho demorará ao menos cinco anos. "Nosso dicionário não terá mais de 80 mil verbetes e será da norma culta. Não terá os papéis do "Aurélio" ou do "Houaiss'", afirma. "Queremos, assim como a Real Academia Española, fixar o cânone. Para transgredir é preciso transgredir alguma coisa."

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