São Paulo, sábado, 03 de março de 2007

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Divas viram "mulheres genéricas"

Em mostra que abre hoje na Fortes Vilaça, o artista português Julião Sarmento faz tributo ao cinema dos anos 30 a 50

Artista faz quebra-cabeça a partir de personagens de nove estrelas de Hollywood, como Greta Garbo, Audrey Hepburn e Grace Kelly


DA REPORTAGEM LOCAL

"Picture Show", a mostra que o artista português Julião Sarmento abre hoje, na galeria Fortes Vilaça, presta tributo ao cinema dos anos 30 a 50, em forma de quebra-cabeça, a partir de personagens de nove divas, como Greta Garbo, Audrey Hepburn e Grace Kelly.
A exposição é composta por duas séries, uma de pinturas e outra de desenhos, além de uma escultura. Apesar de, segundo o artista, "cada obra se constituir numa unidade", as relações estabelecidas entre as séries geram uma carga muito mais potente no conjunto quando se percebe que são constituídas a partir da equação: um filme + uma personagem + uma atriz.
Exemplo: na pintura intitulada "Elizabeth", estão as primeiras palavras ditas por Elizabeth Taylor -"Don't do that", ou seja, "não faça isso"- em "Gata em Teto de Zinco Quente", filme de 1958, dirigido por Richard Brooks.
Também compõe a obra um objeto, no caso, uma janela, importante para a trama do filme, assim como uma posição da personagem no filme e seu nome, "Maggie". No desenho correspondente a essa obra, intitulado "Maggie", Sarmento aponta outros elementos do próprio filme: uma foto de Taylor atuando em "Gata...", a última frase dita pela personagem - "For backing me up in my lie", isto é, "por me apoiar em minha mentira"-, e gestos de mãos que, na verdade, são uma ficção criada pelo artista. "Meus trabalhos são sempre uma espécie de engano, e, no caso, esses gestos são uma pista falsa; mas, quando estão presentes, eles se tornam verdadeiros", conta Julião.

Duplo sentido
Esse procedimento de criar ambivalências é típico na obra do artista: "Essa série tem vários duplos sentidos, pois me interesso por ambigüidades, não gosto muito das coisas claras".
Um dos elementos que tornam a exposição mais misteriosa é a escultura "Joan", a versão tridimensional de suas pinturas, baseada em "Um retrato de Mulher", de Fritz Lang.
Tanto a escultura como as personagens representadas nas pinturas são mulheres sem cabeça, vestidas de preto, criando o que Sarmento denomina "mulheres genéricas", pois "não quero mostrar retratos, mas sim mostrar que é sempre a mesma mulher que interpreta todos esses papéis em minhas pinturas".
Já no mezanino da galeria, o mexicano Damián Ortega, que participou da última Bienal de São Paulo, apresenta "Incide/ Inside", realizado durante a montagem da sua obra na mostra. O vídeo documenta o percurso do artista até o prédio da Bienal focando apenas árvores ou postes em sua junção com gramados e calçadas. (FABIO CYPRIANO)

PICTURE SHOW E INCIDE/INSIDE
Quando:
abertura, hoje, às 14h; de ter. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 17h; até 31/3
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena, tel. 3032-7066)
Quanto: entrada franca


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