São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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Categoria tenta recuperar moral dos anos 50 a 70

DA REPORTAGEM LOCAL

É voz corrente que os votantes da categoria de filme em língua estrangeira têm, quase todos, os cabelos brancos. Isso acontece porque, ao contrário dos filmes hollywoodianos, que entram em cartaz no correr do ano, os internacionais costumam chegar aos EUA só depois da inscrição no Oscar. Dado o volume de filmes a serem vistos num curto período, reza a lenda que só os aposentados da Academia encaram a missão.
Se, entre os anos 1950 e 1970, as estatuetas foram parar nas mãos de Federico Fellini, Ingmar Bergman e Luís Buñuel, dos anos 1990 em diante a categoria foi perdendo a relevância. Ciente disso, a Academia criou, há dois anos, um novo sistema de votação. O processo inicia-se com a divisão dos inscritos em quatro grupos. Para votar, é preciso ter visto 80% dos filmes - são agendadas exibições em Nova York e Los Angeles. Desse turno, saem os seis mais votados. Além disso, uma comissão especial escolhe outros três títulos. Forma-se assim uma lista com nove obras. Da última rodada, saem os cinco indicados.
Antes da mudança nas regras, certas omissões não passaram desapercebidas. Em 2006, "A Criança", dos irmãos Dardenne, foi ignorado nas indicações e, no fim, o contundente palestino "Paradise Now", sobre homens-bomba, perdeu para o inexpressivo sul-africano "Tsotsi". Dois dos ganhadores de Cannes, em 2007, o romeno "Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias" e "Do Outro Lado", do turco Fatih Akin, ficaram de fora.
Os concorrentes são indicados pelos países de origem. Alguns têm uma espécie de academia local. Outros, como o Brasil, criam comissões. Aqui, os cinco votantes são indicados pelo Ministério da Cultura e, não raro, as decisões são polêmicas. Nos últimos anos, diretores de repercussão internacional, como Walter Salles e Fernando Meirelles, sequer submeteram "Linha de Passe" e "Ensaio sobre a Cegueira" à seleção. Os populares "Se Eu Fosse Você 2" e "Os Normais 2" também não se inscreveram.
A pergunta que costuma causar desconforto entre os votantes é: deve ser indicado o filme com mais chances ou o melhor filme? O impasse sobre os critérios não é exclusivo do Brasil. Neste ano, na Itália, a decisão de mandar a superprodução "Baaria", de Giuseppe Tornatore, no lugar de "Vincere", de Marco Bellochio, foi criticada por lá. A Espanha, antes, tinha deixado dois filmes de Pedro Almodóvar, "Fale com Ela" e "Má Educação", fora do páreo.
(APS)


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