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Carl Stephenson, a pureza maculada
da Reportagem Local
Não, "Forest for the Trees" não é
um disco beneficente para salvar
as arvorezinhas da floresta. Apesar
do nome, trata-se do mais descarado subproduto da era Beck na
música pop mundial. Além de nome de CD, Forest for the Trees é a
banda-projeto do multimúsico
Carl Stephenson, o homem que
co-produziu "Mellow Gold" (94),
álbum de estréia de Beck.
Não é pouco. Beck é o Chico
Science de lá, o cara que se aproveitou de todas as variáveis de
"música de raiz" que encontrou
pela frente para produzir algo que
se pudesse chamar "pop universal". Stephenson é responsável por
muito disso tudo, a partir de "Loser", canção-emblema de Beck.
Pois bem, ele poderia ser acusado de tornar caricatura o padrão,
pela afoiteza com que se atira a
gaitas de fole e cítaras para conferir tons pseudoancestrais, ora escoceses, ora indianos, a seu "pop
universal". Não é simples assim.
"Forest for the Trees" foi gravado em 92 -depois que Beck e Carl
se conheceram, mas antes do advento de "Loser". Uma história
trágica se interpõe: após a gravação, Stephenson foi acometido de
um tipo de síndrome de pânico e
gasta hoje seu tempo em intermitentes internações hospitalares.
Um dos amalgamadores do pop
de virada de século pode ter abortado prematuramente ("eu sou
uma pintura", prefigura em "Wet
Paint"), o que de novo repete um
padrão -pense em Brian Wilson,
Syd Barrett, Arnaldo Baptista,
Nick Drake, Chico Science.
Dadas as cronologias, Carl não é
Beck estereotipado. Beck é que pode ser a evolução de Stephenson,
ou um Carl que deu certo. Se for
assim, é ocioso decretar que "Forest for the Trees" não alcança os
calcanhares dos piores produtos
de Beck. Melhor pensar em Carl
como se a revolução de Beck nunca houvesse acontecido.
O que se tem então é um álbum
que atira para tantas direções
quanto permita o panorama multifacetado do pós-moderno. Acerta muitos alvos, erra outros tantos.
Comete, por exemplo, um tecno
de vanguarda, "You Create the
Reason" (você cria a razão/ para
sua existência/ cria a razão/ para
sua existência", proclama, num
pós-Jorge Ben fase alquimista).
Volta a parecer europeu em
"Green Light Street", muito parecida com o lado pop de Brian Eno,
tipo "King's Lead Hat" (77), e em
"Planet Unknown", seu comentário a "Technique" (89), do New
Order. Traz um rapazinho então
desconhecido, chamado Beck, para tocar gaita folk em "Fall".
Está feito aí: não existe mais lugar para Bob Dylan no mundo.
Toda pureza foi maculada, é a era
do caos. Irregular, "Forest for the
Trees" nunca deixa de ser belo documento do caos.
(PAS)
Disco: Forest for the Trees
Lançamento: Dreamworks/Universal
Quanto: R$ 18, em média
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