|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Charme de álbum está no "malabarismo poético"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
"Cole Porter & George Gershwin - Canções, Versões", álbum
"orquestrado" por Carlos Rennó,
talvez seja mais um livro que um
disco. Grande parte de seu charme está nos malabarismos poéticos operados para transformar
tais composições em MPB.
Causa estranhamento, mas soa
instigante -ousado até- tomar
"It's De-Lovely" por "Que De-Lindo", "Let's Do It" por "Façamos", "Embraceable You" por
"Abraçável Você", "The Lorelei"
por "A Lorelai", "The Laziest Gal
in Town" por, bem coloquial, "A
Moça Mais Vagal da Cidade"... As
liberdades avançam pelo corpo
das letras, para lá dos títulos.
Mas é um disco e, como tal, bastante pesado. Os arranjos de Dori
Caymmi e Nelson Ayres optam,
sempre, pelo solene, pelo orquestrado -são menos MPB que as
versões das letras, por estranho
que pareça.
As interpretações, todas elas
buscando o "cool", fazem a ponte
pênsil entre Cole Porter e os irmãos Gershwin (por que Ira perdeu lugar no título?) e nossa bossa
nova, que nem sempre é tão evidente nos domínios dos arranjos.
Bem bossa nova são os arranjos
de "Um Dia de Garoa" (A Foggy
Day), por Dori Caymmi e com
Gilberto Gil, num encontro histórico de facções que se opuseram
no cisma do tropicalismo, e de
"Que De-Lindo", por Cláudio
Leal Ferreira e com Caetano Veloso, de contato com "Amoroso"
(77), de João Gilberto, arranjado
por Claus Ogerman.
Divergente do contexto, por linhas tortas, é "Você É o Mel", versão divertidíssima (e muito abrasileirada) de "You're the Top",
cantada por Tom Zé e arranjada
pelo herdeiro tropicalista Ruriá
Duprat, naqueles conformes. É o
ponto alto do disco, com as intervenções de Elza Soares em "Façamos (Vamos Amar)", dueto com
Chico Buarque.
As leituras solenes causam choques quando "divas" pop (isso
existe?) encontram as orquestras.
Rita Lee em "Blablablá (Blah, Blah
Blah)", Cássia Eller em "Toda Vez
Que Eu Digo Adeus (Ev'ry Time
We Say Goodbye)", Paula Toller
em "Quem Tome Conta de Mim
(Someone to Watch Over Me)",
Sandra de Sá em "Enfim o Amor
(At Long Last Love)", Zélia Duncan em "Eu Só Me Ligo em Você
(I Get a Kick Out of You)" usam o
escudo da voz para lutar contra o
roubo de suas camas pop.
"Oh, Dama, Tem Dó"
Mais adaptados soam Carlos
Fernando (provavelmente a grande interpretação no CD), em "Oh,
Dama, Tem Dó (Oh, Lady, Be
Good)", Mônica Salmaso em "A
Lorelai", Jussara Silveira, em "A
Moça Mais Vagal da Cidade", até
os muitas vezes excessivos Ed
Motta, em "Fascinante Ritmo
(Fascinating Rhythm)", e Jane
Duboc, em "Abraçável Você".
Bem, esses são os músicos, e, talentos à parte, o conjunto roça o
moroso um bom tanto de tempo.
Mas aí há, de novo, as versões.
Avaliação:
Disco: Cole Porter & George Gershwin -Canções, Versões
Intérpretes: Mônica Salmaso, Carlos Fernando, Tom Zé e outros
Lançamento: Geléia Geral/WEA
Quanto: R$ 20, em média
Texto Anterior: Gershwin e Porter sem legendas Próximo Texto: "A foggy day" Índice
|