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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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FESTIVAL É TUDO VERDADE

Temática familiar, como em "Fleurette", de Sérgio Tréfaut, é destaque na 8ª edição do evento

Filhos e pais olham-se em documentários

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentados lado a lado, o cineasta português Sérgio Tréfaut, 38, e Fleurette, 80, a mulher que é tema e título de seu documentário, manuseiam fotos antigas. "Essa é a sua avó, criatura desgraçada", comenta Fleurette.
Reconstruindo em filme a trajetória da própria mãe -francesa que, anonimamente, casou-se duas vezes, criou os filhos e tocou a vida na Alemanha nazista, no Brasil do regime militar e em Portugal da Revolução dos Cravos-, Tréfaut acredita ter rompido simultaneamente com duas tradições no território das biografias.
"É comum o protagonismo dos homens e a suposição de que os personagens interessantes são aqueles iluminados, que dizem a si e aos outros que tiveram vidas interessantes", afirma.
"Fleurette" terá a primeira exibição no Brasil amanhã, na programação do 8º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários. A mostra será inaugurada hoje, para convidados, no Rio (no CCBB, sede carioca das sessões dos 104 títulos do festival), e no próximo dia 7, em São Paulo.
Entre os gêneros cinematográficos, Tréfaut situa seu documentário "na recente tradição dos filmes sobre situações familiares". "Estou entre as pessoas que, tentando compreender o que é a vida dos mais próximos, refletem questões que são idênticas para outros."
Além de "Fleurette", outros cinco títulos (entre os 15) listados na competição internacional do É Tudo Verdade são obras de filhos sobre seus pais ou vice-versa -"Brook por Brook", "Papai Boogie Woogie", "Exílio em Sedan", "Por uma Hora a Mais com Você" e "Eu Era um Cineasta".
Para extrair de Fleurette revelações que ela nunca havia feito nem aos filhos nem ao homem com quem foi casada durante 23 anos, Tréfaut diz que usou nas filmagens a tática da "caça".
Reuniu vários troféus. Administrando habilmente suas poucas palavras, Fleurette conta como, durante a Segunda Guerra, casada com um alemão partidário da extrema direita, trocou a França pela Alemanha.
O marido tornou-se prisioneiro de guerra, e ela retornou à França, onde trabalhou como recepcionista no Festival de Cannes. Lá, conheceu seu "grande amor", um jornalista português por quem deixou a França em direção a Portugal e este último rumo ao Brasil.
O segundo marido de Fleurette (que é pai de Tréfaut e atualmente vive em Cuba) cultiva paixões revolucionárias e foi membro do Partido Comunista simultaneamente em Portugal e no Brasil. O resto da (longa) história é o filme.


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