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FESTIVAL É TUDO VERDADE
Temática familiar, como em "Fleurette", de Sérgio Tréfaut, é destaque na 8ª edição do evento
Filhos e pais olham-se em documentários
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentados lado a lado, o cineasta
português Sérgio Tréfaut, 38, e
Fleurette, 80, a mulher que é tema
e título de seu documentário, manuseiam fotos antigas. "Essa é a
sua avó, criatura desgraçada", comenta Fleurette.
Reconstruindo em filme a trajetória da própria mãe -francesa
que, anonimamente, casou-se
duas vezes, criou os filhos e tocou
a vida na Alemanha nazista, no
Brasil do regime militar e em Portugal da Revolução dos Cravos-,
Tréfaut acredita ter rompido simultaneamente com duas tradições no território das biografias.
"É comum o protagonismo dos
homens e a suposição de que os
personagens interessantes são
aqueles iluminados, que dizem a
si e aos outros que tiveram vidas
interessantes", afirma.
"Fleurette" terá a primeira exibição no Brasil amanhã, na programação do 8º É Tudo Verdade
- Festival Internacional de Documentários. A mostra será inaugurada hoje, para convidados, no
Rio (no CCBB, sede carioca das
sessões dos 104 títulos do festival),
e no próximo dia 7, em São Paulo.
Entre os gêneros cinematográficos, Tréfaut situa seu documentário "na recente tradição dos filmes
sobre situações familiares". "Estou entre as pessoas que, tentando
compreender o que é a vida dos
mais próximos, refletem questões
que são idênticas para outros."
Além de "Fleurette", outros cinco títulos (entre os 15) listados na
competição internacional do É
Tudo Verdade são obras de filhos
sobre seus pais ou vice-versa
-"Brook por Brook", "Papai
Boogie Woogie", "Exílio em Sedan", "Por uma Hora a Mais com
Você" e "Eu Era um Cineasta".
Para extrair de Fleurette revelações que ela nunca havia feito
nem aos filhos nem ao homem
com quem foi casada durante 23
anos, Tréfaut diz que usou nas filmagens a tática da "caça".
Reuniu vários troféus. Administrando habilmente suas poucas
palavras, Fleurette conta como,
durante a Segunda Guerra, casada
com um alemão partidário da extrema direita, trocou a França pela Alemanha.
O marido tornou-se prisioneiro
de guerra, e ela retornou à França,
onde trabalhou como recepcionista no Festival de Cannes. Lá,
conheceu seu "grande amor", um
jornalista português por quem
deixou a França em direção a Portugal e este último rumo ao Brasil.
O segundo marido de Fleurette
(que é pai de Tréfaut e atualmente
vive em Cuba) cultiva paixões revolucionárias e foi membro do
Partido Comunista simultaneamente em Portugal e no Brasil. O
resto da (longa) história é o filme.
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