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TEATRO
Neta escreveu "Dorotéia Minha"
Peça evoca amor entre Nelson Rodrigues e atriz
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Nos anos 70, Beth Goulart, 42,
tentou produzir a peça "Dorotéia". Não conseguiu. Tempos depois, buscou montar a sexta criação teatral rodriguiana, sob a batuta do encenador Gerald Thomas, mas, do encontro, emergiu
"Electra com Creta".
Após as duas investidas malbaratadas, a atriz volta à carga, por
outro caminho. "Dorotéia Minha" estréia hoje para convidados
e amanhã para o público, no Teatro do Centro da Terra. Antes, esteve no Rio, onde debutou em fins de 2002, e em João Pessoa.
Não se trata do texto de Nelson
Rodrigues, mas da primeira incursão da atriz pela dramaturgia.
Neta de Eleonor Bruno -a primeira intérprete da personagem,
em 50-, filha de Nicete Bruno
-que trabalhara na montagem
original de "Anjo Negro", dois
anos antes-, Goulart construiu
um solo que costura a saga da
prostituta que dá título à obra ao
romance vivido por sua avó e pelo
escritor -casado-, nos anos 40.
"Quando resolvi produzir o texto pela primeira vez, encontrei o
original na casa de minha mãe,
com a dedicatória à minha avó
[entre outras coisas, Nelson Rodrigues afirmou a ela que "Dorotéia" era "a peça que escrevemos juntos'], aí minha irmã falou de
bilhetes, cartas", diz Beth Goulart.
A idéia de fazer o material render teatro se corporificou só em
2001, quando a atriz foi convidada
para executar uma performance
no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. Resolveu expandir a duração do espetáculo e chamou Victor Garcia
Peralta, 43, com quem já havia trabalhado em "Decadência", para dividir a direção com ela.
No texto, a personagem, indefinida, um pouco atriz, um pouco
cantora, um pouco meretriz, no plano do presente, narra a paixão
vivida por Ele e Ela, depois de ter encontrado a correspondência
amorosa do par. Os amantes evocam Nelson e Nonoca, mas não se
faz menção direta a eles.
"Isso não me interessava. Parti do pessoal para atingir o universal. Retrabalhei os escritos, só cito um trecho da dedicatória."
Porém não foi apenas "Dorotéia", segundo a neta de Eleonor,
que surgiu da relação. "No tempo em que estiveram juntos, Nelson
escreveu "Valsa Nº 6", para a minha mãe. Só que minha avó e ele
terminaram antes. Minha mãe tinha 15 anos, a idade da personagem. Mas eles se distanciaram e aí quem fez o monólogo foi a irmã
dele [Dulce Rodrigues]."
Peralta conta que há semelhanças entre "Decadência", que rendeu a Beth Goulart o prêmio Shell carioca de melhor atriz, em 2000,
e "Dorotéia Minha".
"O processo é parecido no plano da imaginação da Dorotéia de
Beth, a linguagem é minimalista,
entra a sugestão de ações. Lembra
a outra peça." O cenário é sintético, um banquinho, um palco nu.
Quinze músicas, entre elas
"Inútil Paisagem" e "Besame Mucho", integram a trilha sonora.
Beth Goulart, além de interagir
com o público -e em São Paulo o
espetáculo começa no lounge do
teatro-, canta. Assina a direção
musical Zé Nogueira.
Em tempo: Eleonor Bruno não
chegou a ver a estréia do texto inspirado em sua biografia. "Ela pegou o começo do processo. Quando estava mais lúcida, achou bacana a idéia, mas não viu a montagem. Quem assistiu, e de alguma forma a substituiu, foi a minha mãe", diz Goulart.
DOROTÉIA MINHA. Texto e
interpretação: Beth Goulart. Direção:
Victor Garcia Peralta e Beth Goulart.
Onde: Teatro do Centro da Terra (r.
Piracuama, 19, SP, tel. 0/xx/11/3675-1595). Quando: estréia hoje para
convidados, às 21h; sex. e sáb., às 21h30,
e dom., às 19h; até 1º/6. 60 min. Quanto:
R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.).
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