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MEMÓRIA
Historiador tinha mais de 15 livros sobre o Brasil publicados nos EUA, sobre temas como Getúlio Vargas e Canudos
Brasilianista Robert Levine morre aos 62
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil perdeu ontem um de
seus principais representantes no
cenário acadêmico norte-americano. O historiador Robert M. Levine morreu na madrugada de
quarta-feira, em Miami, aos 62
anos, vítima de câncer.
Autor de cerca de 30 livros, a
maior parte deles sobre o Brasil,
Levine dirigia desde 1989 o departamento de estudos latino-americanos da Universidade de Miami.
Da mesma geração do compatriota Thomas Skidmore, o historiador dividia com ele o posto de
mais atuante brasilianista dos Estados Unidos, ainda que refutasse
o termo brasilianismo. "Poucas
vezes vi um norte-americano usar
essa palavra", disse em entrevista
à Folha, em 1999.
Getúlio Vargas, sobretudo em
seus primeiros anos de presidência, foi um dos objetos centrais
das pesquisas de Levine, que publicou ainda sobre assuntos tão
diversos quanto o judaismo em
Cuba ou os diários de Carolina
Maria de Jesus (autora que fez na
favela, nos anos 60, o best-seller
"Quarto de Despejo"), pesquisa
feita em parceria com José Carlos
Sebe Bom Meihy.
"O Regime Vargas", resultado
de seu doutorado na universidade
de Princenton, publicado no Brasil pela Nova Fronteira, é seu livro
de mais repercussão. O mais recente lançado no país é sobre o
mesmo personagem: "O Pai dos
Pobres" (Companhia das Letras).
Historiador e cientista político,
professor aposentado da USP,
Boris Fausto diz que lembra de
Levine como "um historiador
muito sólido".
"Ele tem um projeto de história
regional muito interessante. Defendia que era preciso entender o
Brasil não apenas em termos mais
gerais. Estudando o país no nível
estadual, encontrou um caminho
entre o micro e o grande ensaio
geral", afirma Fausto.
Exemplo dessa linha de pesquisas é o trabalho "A Velha Usina",
sobre Pernambuco, que o historiador publicou no Brasil em
1980, pela editora Paz e Terra.
Sobre essas pesquisas, lembra
Fausto, Levine gostava de contar
uma anedota. "Ele dizia que em
Pernambuco sempre que conversava com alguém falavam: "Apareça lá em casa". E ele aparecia."
Professor visitante de universidades brasileiras como a de São
Paulo e a de Goiás, e também em
instituições como a Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio, Levine
desenvolveu ainda um trabalho
de grande repercussão sobre a
guerra de Canudos, cristalizados
no volume "O Sertão Prometido"
(editora Edusp), de 1992.
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