RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nova animação do estúdio Dreamworks, "Monstros vs. Alienígenas" confirma, de maneira evidente, algumas tendências do cinema norte-americano atual: a animação tornou-se uma ilha de invenção e crítica social em Hollywood, inspirada em moldes clássicos (como os filmes B de terror e ficção científica dos anos 50); o novo 3D vem amadurecendo técnica e artisticamente para se tornar uma alternativa real à crise econômica da indústria cinematográfica; a Dreamworks (produtora do filme) pode ter diminuído o abismo de qualidade que existia em relação à Pixar (de "Wall-E"), mas a distância que separa os dois estúdios de animação é considerável.
Existe, porém, um elemento menos óbvio na equação de "Monstros vs. Alienígenas": a enorme influência que o diretor/produtor Judd Apatow exerce hoje sobre os filmes americanos com elementos cômicos. Além de ter Seth Rogen -atual "muso" de Apatow que dá voz a um dos monstros do filme-, o desenho segue a premissa da maioria dos trabalhos do cineasta: um bando de homens que poderiam ser classificados de maneira apressada como perdedores inúteis; o choque e depois a aliança com uma mulher vinda de fora; o amadurecimento que resulta desse encontro.
Essa é a fórmula adotada por Apatow em filmes como "Ligeiramente Grávidos" (2006). E também por "Monstros vs. Alienígenas" -mas, como se trata de uma paródia de filmes B, os "losers" humanos são substituídos por seres monstruosos.
Na trama, Susan (Reese Whiterspoon) é atingida por um meteoro minutos antes de seu casamento, torna-se uma mulher de 15 metros de altura e é levada pelo governo a um local secreto onde um grupo de monstros desastrados é mantido preso. Quando a Terra é invadida por alienígenas, eles são libertados para detê-los e podem provar seu valor, sob a liderança de Susan e o olhar desconfiado dos humanos.
"Monstros vs. Alienígenas" pode não ter a ousadia anárquica dos filmes de Apatow (e nem mesmo a excelência criativa dos desenhos da Pixar), mas ilustra com graça e competência uma típica moral "apatowniana": a ideia de que é preciso ir além das aparências e dos preconceitos para entender o outro.