São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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CINEMA

Crítica/É Tudo Verdade/"Garapa"

Padilha busca abordagem antropológica no Ceará

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Em seu retorno ao documentário, o diretor e roteirista José Padilha ("Tropa de Elite") desenvolve investigação de método muito distinto do utilizado em "Ônibus 174" (2002), que recriava os acontecimentos de uma tarde no Rio de Janeiro e reconstituía a trajetória de um morto, recorrendo a imagens de arquivo e a depoimentos.
"Garapa" busca abordagem mais antropológica, ao fazer o registro das condições de vida de três famílias no interior do Ceará.
Imagens em preto e branco captadas por uma equipe reduzida apresentam o cotidiano dessas pessoas, dentro de suas casas e nas cercanias -no bar, no centro de assistência social, na rua.
A estratégia tem o objetivo de aproximar o espectador do que representa concretamente a fome para cerca de 15 % da população do planeta (920 milhões de pessoas, segundo a ONU). Os letreiros iniciais apresentam os números; as imagens que se seguem os traduzem em capital humano.
O "hiper-realismo" de "Garapa" cumpre esse objetivo, mas expõe brutalmente a intimidade daquelas famílias, trazendo à baila informações (sobre descontrole de natalidade, por exemplo) que, a pretexto de iluminar certas circunstâncias educacionais, políticas e assistenciais, talvez caracterizem um certo voyeurismo social.
Padilha foi autorizado por elas a fazer isso, como informam os créditos finais. É o bastante para justificar o sentido que "Garapa" produz com suas imagens? Era para ser um documentário sobre a fome, mas acabou se tornando também um bom objeto para o debate da ética do audiovisual.


GARAPA

Direção: José Padilha
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 15h, no Cinesesc (r. Augusta, 2.075, São Paulo, SP; tel. 0/xx/11/3087-0500)
Avaliação: regular



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