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CINEMA
Crítica/É Tudo Verdade/"Garapa"
Padilha busca abordagem antropológica no Ceará
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Em seu retorno ao documentário, o diretor e roteirista José
Padilha ("Tropa de Elite") desenvolve investigação de método muito distinto do utilizado
em "Ônibus 174" (2002), que
recriava os acontecimentos de
uma tarde no Rio de Janeiro e
reconstituía a trajetória de um
morto, recorrendo a imagens
de arquivo e a depoimentos.
"Garapa" busca abordagem
mais antropológica, ao fazer o
registro das condições de vida
de três famílias no interior do
Ceará.
Imagens em preto e branco
captadas por uma equipe reduzida apresentam o cotidiano
dessas pessoas, dentro de suas
casas e nas cercanias -no bar,
no centro de assistência social,
na rua.
A estratégia tem o objetivo de
aproximar o espectador do que
representa concretamente a fome para cerca de 15 % da população do planeta (920 milhões
de pessoas, segundo a ONU).
Os letreiros iniciais apresentam os números; as imagens
que se seguem os traduzem em
capital humano.
O "hiper-realismo" de "Garapa" cumpre esse objetivo, mas
expõe brutalmente a intimidade daquelas famílias, trazendo
à baila informações (sobre descontrole de natalidade, por
exemplo) que, a pretexto de iluminar certas circunstâncias
educacionais, políticas e assistenciais, talvez caracterizem
um certo voyeurismo social.
Padilha foi autorizado por
elas a fazer isso, como informam os créditos finais. É o bastante para justificar o sentido
que "Garapa" produz com suas
imagens?
Era para ser um documentário sobre a fome, mas acabou se
tornando também um bom objeto para o debate da ética do
audiovisual.
GARAPA
Direção: José Padilha
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às
15h, no Cinesesc (r. Augusta, 2.075, São
Paulo, SP; tel. 0/xx/11/3087-0500)
Avaliação: regular
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